São Paulo, sábado, 4 de abril de 1998 |
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PSDB sai fortalecido e FHC, derrotado
ELIANE CANTANHÊDE; VALDO CRUZ ELIANE CANTANHÊDEDiretora da Sucursal de Brasília VALDO CRUZ Diretor-executivo da Sucursal de Brasília O PSDB foi o grande vitorioso da reforma ministerial fechada na sexta-feira. Já o presidente Fernando Henrique Cardoso, principal estrela tucana, foi o maior derrotado. Fernando Henrique Cardoso pretendia, até dezembro último, montar um ministério técnico para o final deste mandato. Pressionado pelos aliados, cedeu e nomeou ministros de olho na eleição de outubro. Ganhou ainda a fama de traidor, ao "fritar" dois ministros: Carlos Albuquerque (Saúde) e Arlindo Porto (Agricultura). No passado, já havia feito o mesmo com Dorothéa Werneck, no Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo. O presidente conseguiu surpreender negativamente até os próprios tucanos com dois lances no final da reforma ministerial: criou o Ministério da Reforma Institucional (Mirin) e nomeou o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) para o mais tradicional dos ministérios, o Ministério da Justiça. Aliados de Fernando Henrique Cardoso acreditam que as próximas pesquisas de opinião já devem refletir o desgaste sofrido pelo presidente com a reforma ministerial. A expectativa é que ele caia alguns pontos. Tucanos O PSDB sai da reforma sem o que reclamar. Mesmo a perda do Ministério do Planejamento, que era ocupado por Antonio Kandir, foi de mentirinha. O novo ministro, Paulo Paiva, é formalmente do PTB de Minas Gerais e ligado ao ex-governador Hélio Garcia. Na prática e no discurso, entretanto, ele é muito próximo dos tucanos. Além disso, as duas outras cadeiras estratégicas do Ministério do Planejamento continuaram nas mãos de técnicos que trabalham com o PSDB desde a fundação do partido, em 1988. O secretário-executivo do Ministério do Planejamento é Martus Tavares, e a secretária de Políticas Urbanas é Maria Emília de Azevedo. Martus é o dono do cronograma de liberação de verbas até a data decisiva de 31 de junho (depois, a Lei Eleitoral é bastante restritiva). Maria Emília cuida de uma área eleitoralmente sensível para os tucanos: a classe média dos centros urbanos. Os tucanos conseguiram, ainda, afastar dois obstáculos às suas ambições eleitorais: o Ministério de Assuntos Políticos, que iria para o PMDB ou o PFL, foi extinto; o Ministério de Políticas Urbanas ficou para o segundo mandato, se FHC vencer. Os tucanos continuam com o pé também na infra-estrutura: Sérgio Motta nas Comunicações e José Luiz Portella, mantido a contragosto na Secretaria Executiva dos Transportes. E abocanham toda a área social. Com Paulo Renato Souza mantido na Educação e José Serra assumindo a Saúde, os tucanos ficam em duas áreas consideradas trampolins para a Presidência da República. Pefelistas O Ministério da Reforma Institucional, cuja utilidade não ficou clara, surgiu da necessidade de acomodar os pefelistas, principalmente os ligados ao vice-presidente da República, Marco Maciel, e ao presidente do partido, Jorge Bornhausen. O novo ministério, apelidado de Mirin, não tem função, não tem funcionários, não tem estrutura. Passa a existir apenas para acomodar o senador Freitas Neto (PI) e, assim, acalmar a parcela do PFL incomodada com o poder baiano. O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (BA), trombou com Fernando Henrique Cardoso. ACM foi outro que se irritou com a nomeação de José Serra. Exigiu e conquistou mais espaço, aumentando sua cota pessoal no governo. ACM já tinha indicado Raimundo Brito para o Ministério das Minas e Energia. Agora, nomeou o senador baiano Waldeck Ornélas para o Ministério da Previdência Social. O grupo de Marco Maciel, Bornhausen e do senador Guilherme Palmeira (AL) tinha apenas mantido Gustavo Krause no Ministério do Meio Ambiente. Agora, tem também o Mirin, criado numa reunião da qual participaram Fernando Henrique Cardoso, o vice-presidente Marco Maciel e Jorge Bornhausen. Cota do PMDB O senador Renan Calheiros (AL) só foi escolhido para completar a "cota" do PMDB e, principalmente, abrir caminho para a eleição do senador Teotonio Vilela Filho para o governo de Alagoas. Vilela é presidente nacional do PSDB. Outra nomeação que atende apenas ao interesse eleitoreiro é a de Francisco Turra para o Ministério da Agricultura. Com a indicação, o PPB gaúcho fica definitivamente com a candidatura de Antônio Britto (PMDB) ao governo do Rio Grande do Sul. De quebra, o ex-prefeito Paulo Maluf ganha mais um ministério para o seu PPB. Maluf estava descontente com Fernando Henrique Cardoso por causa da nomeação de Serra para a Saúde. O partido aliado que sai prejudicado da reforma é o PTB. Os petebistas dizem que a indicação de Paulo Paiva para o Planejamento foi uma decisão do presidente. E reclamam da perda do Ministério da Agricultura. Texto Anterior: A Folha de ontem na opinião do leitor Próximo Texto: Nomeado quer 'criar ambiente' para reforma Índice |
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