São Paulo, sábado, 4 de abril de 1998
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Paraíba impede Anistia de visitar presídio

"A Anistia ficou decepcionada", diz coordenadora da entidade

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Pela segunda vez em menos de dois meses, as autoridades da Paraíba proibiram a entrada de entidades de direitos humanos nos presídios do Estado. A Anistia Internacional, maior entidade de direitos humanos no mundo, foi proibida ontem de entrar no presídio do Roger, em João Pessoa.
"A Anistia ficou profundamente decepcionada, principalmente porque nesse presídio houve uma chacina em que morreram oito presos", disse Fiona Maccaulay, que coordena a área de pesquisas sobre o Brasil no escritório da Anistia em Londres. Fiona coordenava a visita ao presídio.
"Eles só podem ter algo a esconder", diz Fiona. No momento, a Anistia prepara relatório sobre a situação carcerária no Brasil. Presídios de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Amazonas já foram visitados pela entidade.
Fiona disse que estava autorizada pela Secretaria da Justiça da Paraíba, responsável pelo sistema carcerário do Estado, a visitar o presídio. Na porta do presídio, no entanto, guardas carcerários disseram ter ordem para não permitir a visita da equipe da Anistia.
Há dois meses, a Human Rights Watchs/Americas, outra entidade internacional de direitos humanos, também foi proibida de visitar presídios na Paraíba. A entidade também faz levantamento sobre o sistema carcerário do país.
No dia 27 de julho do ano passado, oito presos foram mortos em chacina no presídio do Roger. O Ministério Público apresentou denúncia contra 13 envolvidos, entre eles o tenente Jorge Henrique Souza Uchoa, filho do comandante da PM na Paraíba, Américo Uchoa, que se licenciou do cargo esta semana para concorrer a deputado.
A Folha não conseguiu falar ontem com as autoridades da Paraíba. Na Secretaria da Justiça, um segurança informou que não houve expediente em nenhum órgão público do Estado por ser dia do padroeiro de João Pessoa.
Chacina no RN
Tanto a Anistia Internacional como a Human Rights investigam outra chacina ocorrida em um presídio do Nordeste. No último dia 5 de fevereiro, foram mortos oito fugitivos da Penitenciária João Chaves, em Natal (RN). Todos eles foram mortos com tiros na cabeça, tórax e abdômen.
As entidades de direitos humanos culpam a PM local pelas mortes. Necropsia de legistas do Estado indica que havia presença de pólvora na mão de apenas um dos oito mortos. Isso desmonta a versão da PM de resistência armada. A PM nega responsabilidade.

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