São Paulo, sábado, 4 de abril de 1998
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A República dos oportunistas

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - É curiosa a indignação em torno da indicação de Renan Calheiros (PMDB-AL) para o Ministério da Justiça, por ter sido líder do governo Fernando Collor.
Indignação curiosa por seletiva. A República está prenhe de personagens relevantes do período Collor, sem que tenha havido, antes, repúdio similar.
Começa por Marco Maciel, vice-presidente da República, também líder de Collor (no Senado). Continua com Antonio Carlos Magalhães, presidente do Congresso, que ficou fiel a Collor até o último momento. A ponto de ter sido seu filho, Luís Eduardo Magalhães (aliás, líder do governo FHC), quem fez o discurso em defesa de Collor no encaminhamento da votação do impeachment na Câmara.
Será que o fato de os Magalhães e Maciel terem aderido à candidatura FHC na primeira hora purificou-os? Será Renan Calheiros vítima de preconceito apenas por adesão tardia?
Fique claro que não estou defendendo Calheiros. Ao contrário. Por mim, todos os personagens relevantes do período Collor deveriam, no mínimo, ficar de quarentena. Porque só cabe uma de duas hipóteses:
1 - Foram ingênuos. Aderiram a Collor imaginando servir a um estadista para só depois descobrir que era um vigarista. Ingenuidade é muito perigosa na vida pública.
2 - Foram oportunistas, o que é desqualificante por definição.
Calheiros, pelo conhecimento que tem da vida política alagoana, não tinha o direito de ser ingênuo em relação a Collor. Logo, sua trajetória, do PC do B a FHC, passando por PC Farias, só pode ser interpretada como oportunismo descarado.
O presidente, por sua vez, não tem o direito de fingir que ignora tudo isso, que ignora que seu novo ministro da Previdência (o senador Waldeck Ornélas) tem seu mandato "sub judice", à espera de julgamento por suspeita (forte, aliás) de fraude eleitoral.
Da República de Alagoas à República dos oportunistas foi só um passo.

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