São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 1998
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Morte deve atrasar votação de reformas

FERNANDO RODRIGUES

FERNANDO RODRIGUES; LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Luís Eduardo era íntimo de Fernando Henrique Cardoso e vital nas articulações com deputados federais

Luís Eduardo Magalhães era o pefelista mais querido e respeitado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Por extensão, transformara-se no mais importante articulador do governo dentro da Câmara dos Deputados. Sua morte inviabiliza a votação da emenda da Previdência, a última reforma importante que o governo esperava aprovar neste ano.
Na presidência da Câmara dos Deputados durante os primeiros dois anos de FHC no poder, Luís Eduardo deu todo o apoio que pôde. Não admitiu sair do seu posto sem antes entregar para o presidente a emenda da reeleição aprovada, em 28 de janeiro de 97.
Ganhou confiança total do presidente, por quem era atendido no momento que desejasse. Outros parlamentares enxergavam poder nessa proximidade.
Acordos fechados entre o Executivo e o Legislativo antes de uma votação importante só tinham relevância se Luís Eduardo fosse um dos fiadores.
Sua ausência deve prejudicar os planos do Planalto de aprovar a emenda da Previdência Social e qualquer outro projeto relevante.
O governo corre contra o tempo. Neste ano, dois eventos impedirão o pleno funcionamento da Câmara e do Senado no segundo semestre: a Copa do Mundo da França e a eleição de 4 de outubro.
A idéia do Planalto era retomar a votação da emenda da Previdência na semana que vem.
Luís Eduardo era visto por alguns governistas como o substituto natural de Sérgio Motta nas negociações com a Câmara.
"Ele é o Sérgio Motta 'light', moderado. Não tem o mesmo contato com o presidente, mas tem prestígio", dizia o líder do PFL na Câmara, deputado Inocêncio Oliveira (PE), quando Luís Eduardo ainda estava internado na UTI.
Para o líder do PTB na Câmara, Paulo Heslander (MG), o governo se fiava, principalmente, em duas pessoas para obter sucesso nas votações na Câmara: Luís Eduardo e Sérgio Motta.
Antes da notícia da enfermidade de Luís Eduardo, o líder do PTB declarou o seguinte à Folha: "Agora, sem o Sérgio Motta, o governo ficará perneta na Câmara. Vai parecer um saci-pererê só com o Luís Eduardo".
Relação com FHC
O presidente FHC enxergava em Luís Eduardo um dos principais representantes da ala mais moderna do PFL. Apesar de ser filho do presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), o deputado não carregava como o pai, até por causa de sua idade (43 anos), a pecha de ter sido um dos sustentáculos do regime militar.
Além disso, Luís Eduardo se revelou desde cedo um fiel receptor de informações do Planalto. Era raro que uma notícia confidencial fosse vazada por intermédio do deputado. Esse comportamento comedido agradava a FHC.
Luís Eduardo completou 43 anos no último dia 16 de março. Começou cedo na política, pelas mãos de seu pai.
Com 24 anos, em 79, foi deputado estadual pela Arena (Aliança Renovadora Nacional, partido de sustentação do regime militar) na Bahia. Formou-se em direito apenas em 1981, pela Universidade Federal da Bahia.
Até 87, foi deputado estadual. Desde então, esteve sempre na Câmara em Brasília. Estava no seu terceiro mandato.
A reação de seu pai ontem, tentando negar a gravidade da doença, se devia ao fato de Luís Eduardo ter pela frente duas campanhas políticas importantes: uma neste ano e outra em 2002.
ACM praticamente obrigou Luís Eduardo a disputar o governo da Bahia na eleição de outubro próximo. O filho preferiria ficar em Brasília, fosse como deputado ou como senador.
Mas ACM considerava vital a passagem do filho por uma função executiva, como forma de ganhar experiência para 2002.
Nesse ano, o sonho do PFL da Bahia era eleger Luís Eduardo presidente da República.

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