São Paulo, quarta-feira, 22 de abril de 1998
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Muller, uma certeza, vira dúvida

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Sai hoje a lista complementar para o jogo contra a Argentina. E, por incrível que pareça, o que deveria ser uma certeza óbvia, inquestionável, desde que unânime, é a única dúvida: Muller.
Mas, com a chamada antecipada de Edmundo, a porta fechou-se para Muller, já que o santista teria de vencer o imbatível Bebeto por essa segunda vaga no ataque reserva da seleção. Digo que Bebeto é imbatível porque, além de ser um jogador notável, embora opaco no Botafogo desta temporada, carrega na bagagem sua participação decisiva na Copa de 94, além de ter dado um certo movimento ao ataque brasileiro no amistoso contra a Alemanha, quando entrou no segundo tempo.
Pau a pau, porém, pelo que vêm jogando ambos nas duas ou três últimas temporadas, Muller vence de goleada, posto que se trata de um fenômeno de longevidade. Aos 32 anos, mantém o vigor dos 20, ao mesmo tempo em que depurou seu jogo a ponto de obter uma rara sintonia fina entre o toque exato na bola e o domínio do espaço e do tempo, o segredo das jóias do futebol.
Pra completar, é como se Muller fosse objeto daquele sortilégio com que sonha todo homem: acumular a sabedoria dos mais velhos num corpo jovem, elástico e resistente.
Mas será que não há um jeito de aproveitar esse prodígio da natureza, preservando-se a preferência do treinador por Bebeto? Se Zagallo tivesse sido mais prevenido, já teria feito a experiência que a lógica sugere: já que não vai chamar mesmo Giovanni, outro crime lesa-futebol, e Raí só está aí para ser queimado, enquanto os canhotos Rivaldo e Leonardo dão provas cabais de inadaptação à meia-direita, por que não fazer uma última e desesperada experiência com Muller por ali. Foi sua posição de origem. Tem velocidade e força para cumprir a função. É hoje um típico jogador-equipe. Toca de primeira com extrema perícia, assim como sabe segurar a bola até os companheiros se posicionarem devidamente (poucos usam o corpo na proteção à bola como Muller). E investe na área como um autêntico artilheiro.
Portanto, trata-se de um jogador talhado para esse papel. Só precisaria de treino adequado, o que, aliás, é uma exigência para qualquer outro, sobretudo os canhotos da predileção de Zagallo.
*
Querem saber? Não acho que o Palmeiras tenha sido quem mais vacilou no jogo de domingo. Claro que a perda do pênalti deixou essa sensação. Mas o resultado de 2 a 1, visto sob outro ângulo, instala o Palmeiras na confortável situação de livre-atirador na revanche de sábado, um jogo a ser decidido mais pelo domínio dos nervos do que pelo controle da bola.
Além do que, 2 a 0 -resultado que lhe dá a classificação- é um placar perfeitamente viável num clássico desses.
Quem vacilou foi o tricolor, que, com um jogador a mais e a dupla Serginho-Denílson em tarde inspiradíssima, deveria ter matado a cobra ali.
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