São Paulo, quinta-feira, 11 de junho de 1998
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Morte de ditador segura técnico

DO "EL PAÍS"

Alguns jogadores telefonaram para o palácio de Abacha pedindo a demissão de Bora Milutinovic
A morte do ditador da Nigéria, o general Sani Abacha, na última segunda-feira, salvou o cargo do técnico da seleção do país, o sérvio Bora Milutinovic.
Como acontecia em todos os setores do país, Abacha também mandava na seleção nigeriana, sendo o responsável pela palavra final até em questões técnicas.
A despeito dos últimos êxitos da seleção (boa campanha nos EUA-94, medalha de ouro em Atlanta-96), o cargo de técnico tem grande rotatividade. Milutinovic é o quinto em quatro anos.
O único ponto de referência sólido era, até segunda-feira, a vontade do sangrento e corrupto ditador. As "águias" (como são conhecidos os atletas) formavam seu time particular. E os jogadores, seus "meninos mimados".
Educado ao estilo de golpes do ditador, o clã mais influente de jogadores -do qual fazem parte Amokachi, Okocha, West e Kanu- conseguiu, há duas semanas, após visita o palácio presidencial, a reintegração à seleção dos preteridos Rufai, Iroha e Eguavoen.
Mas aquilo era pouco, o seu objetivo ia mais além.
Com os últimos resultados negativos da equipe em amistosos -derrotas para a Iugoslávia (3 a 0), Grasshoppers, time da primeira divisão suíça (4 a 0), e Holanda (5 a 1)-, o "clã" resolveu agir.
Após a goleada para a Holanda, na quinta passada, os jogadores receberam, no hotel em que estavam em Amsterdã, o técnico holandês Jo Bonfrere, que os havia conduzido ao ouro olímpico. Ali, diante de um abatido Milutinovic, conversaram e riram no bar.
Em seguida, telefonaram para o palácio de Abacha (capital da Nigéria), pedindo a demissão de Milutinovic antes da estréia na Copa, contra a Espanha, no sábado.
O substituto estava ao seu lado.
Estavam à espera da resposta, divulgando a novidade a jornalistas, quando chegou na concentração de Elincourt-Saint-Marguerite (região de Paris) a notícia da morte de Abacha.
E não parece que a seleção de futebol figure na lista de prioridades do seu sucessor, o general Abdulsalam Abubakar.
Os problemas com Milutinovic, conhecido defensor da ordem, surgiram pela tendência nigeriana de jogar com liberdade.
Quando o técnico assumiu, em dezembro de 97, ordenou que todos no time deveriam marcar.
"Não me sinto ameaçado nem tenho pressão. Tudo isso são contos de jornalistas", disse Milutinovic, único entre os 32 técnicos da Copa que levou três seleções diferentes e de pouca expressão (México, Costa Rica e EUA) às oitavas-de-final de um Mundial.

Texto Anterior: África do Sul tem baixa no Mundial; Franceses fazem pacto de silêncio
Próximo Texto: Atacante se desculpa após criticar companheiros
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.