São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998
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A Redação se explica

RENATA LO PRETE

A jornalista Cristiane Perini Lucchesi, 33, autora da reportagem que resultou na manchete "Mercado reage a crescimento de Lula", envia réplica à coluna na qual apresentei minhas restrições -e as de leitores- a essa cobertura.
Os argumentos de Lucchesi:
"a) a coluna não informou o leitor de que, embora três analistas do mercado financeiro tenham sido citados na reportagem, oito foram ouvidos. Foram unânimes em apontar a subida de Lula na pesquisa Datafolha como a principal causa da queda da Bolsa;
b) a coluna informou erradamente que, dos três analistas, um descartava a tese da manchete. O analista dizia que, para os investidores estrangeiros, o risco Brasil não aumentou por causa da subida de Lula. Não significa que ele não atribuísse a queda da Bolsa à pesquisa;
c) a coluna afirmou que 'dar aspas de declarações em off é recurso para esquentar matérias que o bom jornalismo dispensa'. Não houve declaração em off entre aspas, nem intenção ou necessidade de 'esquentar matéria'. No texto original, a frase foi atribuída ao analista Manuel Maceira, citado nominalmente. A edição trocou a declaração de lugar. Com isso, a frase perdeu o vínculo com seu autor."
Minhas considerações:
a) a ombudsman, assim como o leitor, não tinha como adivinhar que foram oito os analistas consultados, uma vez que essa informação não constava da reportagem.
Estranho ainda a mencionada unanimidade dos entrevistados em relação ao "efeito Lula". Antes de escrever a coluna, tive o cuidado de trocar idéias com quatro profissionais da área. Dois deles, nem de longe petistas, afirmaram ser impossível mensurar, no resultado negativo da Bolsa em 1º de junho, as participações do componente político e do dia especialmente desfavorável no mercado externo.
Opiniões divergentes existem. Basta procurar por elas;
b) se o analista não-identificado de fato atribuiu a queda da Bolsa a Lula, a reportagem se esqueceu de dizer isso ao leitor. O texto afirma, no entanto, que na opinião dessa fonte "os investidores estrangeiros não mudaram sua visão de risco do país por causa da pesquisa Datafolha", o que claramente joga água fria na manchete. Sobraram dois entrevistados para sustentá-la;
c) se a jornalista não foi responsável pela declaração solta no meio da reportagem ("Salvo surpresas, Fernando Henrique Cardoso deve voltar a ganhar popularidade. A hipótese de o presidente perder as eleições continua completamente descartada pelo mercado"), faz bem em esclarecê-lo. Tratou-se então de uma falha de edição. Do ponto de vista do leitor, o resultado é o mesmo.
Continuo a avaliar que a Folha se precipitou na manchete de 2 de junho, por ter isolado o "efeito Lula" de outros fatores que contribuíram para agitar o mercado e por tê-la amparado em uma reportagem tecnicamente frágil.

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