São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998
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Militante diz que objetivo dos movimentos é chegar ao poder

LUIZ MAKLOUF CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filho de trabalhadores rurais pobres de São João da Serra (PI), Raimundo Bonfim, 10 irmãos, veio para São Paulo, "em busca de melhores condições", em 1982.
Tinha 18 anos, experiência no trabalho de roça, vivência de uma seca (a de 79) e estudo que hoje equivaleria à sétima série.
Casado pela segunda vez, com uma ativista da CMP, tem duas filhas (12 e 6 anos) do primeiro casamento. Mora em residência própria (um apartamento da Cohab) e tem um Gol 1986 e um telefone celular ("comprado em seis vezes"). Vive do que lhe paga a CMP. Estuda o supletivo pelas manhãs. Leia trechos da entrevista. (LMC)
*
Folha - O que pretende a CMP?
Raimundo Bonfim - Os movimentos populares são fragmentados. O papel principal da central é juntar esses movimentos e trazê-los, além das lutas específicas, para as lutas mais gerais, de mudanças profundas na sociedade.
Folha - Como se organiza a logística das grandes mobilizações?
Bonfim - Nós reunimos a direção nacional e tomamos a deliberação: "Ó, companheirada, a prioridade número 1 é dia 20 em Brasília". Aí entra o trabalho de articulação nos Estados e municípios, que têm fóruns próprios.
Folha - Dê um exemplo.
Bonfim - O do dia 20 (de maio), em Brasília. Minas levou 220 ônibus. Foi muito bom porque o conjunto de todas as entidades, que é o Fórum Estadual, soube trabalhar direito. O fundamental é o trabalho de quem está na base, as formiguinhas. Fazem bingos, saem arrecadando, mobilizam o pessoal. Motivação é que não falta.
Folha - Como se dá a ligação com o MST?
Bonfim - Já havia essa articulação antes de o MST atingir essa projeção. Em 1990, nós fizemos uma campanha chamada "Terra pra Morar e Terra pra Plantar".
Folha - E hoje?
Bonfim - O contato depende da conjuntura. Um deles foi no dia 25 de julho do ano passado. Eles estavam na marcha, ligaram para nós. Sentamos, avaliamos e decidimos fazer a marcha nas cidades.
Folha - Qual é o objetivo dessa unidade?
Bonfim - Um deles é colocar a reforma urbana na agenda nacional, com a mesma visibilidade que tem a questão da reforma agrária. Ocupar, no espaço urbano, o papel do MST na área rural.
Folha - Esse é o objetivo maior?
Bonfim - O objetivo maior é tomar o poder. Os trabalhadores assumirem o governo -e, a partir disso, construir o poder de fato.
Folha - Como seria essa tomada do poder, concretamente?
Bonfim - Além da luta pela moradia, pela saúde, pela educação, nós vemos o seguinte: com esse sistema que está aí, e com as pessoas que estão no governo, não é possível resolver esses problemas. Então, além de ir fazendo as pequenas conquistas, nós vamos levando o discurso de politização, que é necessário você eleger representantes comprometidos com os trabalhadores, eleger governadores, deputados, presidente e ir conscientizando a massa.
Folha - A proposta, então, é pela via parlamentar?
Bonfim - Parlamentar. Hoje não tem como ser de outra forma.
Folha- Com que formas de luta?
Bonfim - A mobilização. E ela vai crescer, independentemente da nossa vontade, porque o desemprego e a miséria são muito grandes. O governo tem sido um completo fracasso nesse sentido. É por isso que o movimento popular cresce e é, queiram ou não, um ator importante na sociedade. O Fernando Henrique deveria dar graças a Deus que a central e as outras entidades estejam organizando isso. Seria ruim pra democracia se fosse espontâneo.
Folha - O que o governo Fernando Henrique pode esperar?
Bonfim - As manifestações vão crescer. Vêm aí o 25 de julho e o 7 de setembro, onde nós estamos juntinhos. O governo pode esperar muita luta e muita mobilização.

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