São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998 |
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Militante diz que objetivo dos movimentos é chegar ao poder
LUIZ MAKLOUF CARVALHO
Tinha 18 anos, experiência no trabalho de roça, vivência de uma seca (a de 79) e estudo que hoje equivaleria à sétima série. Casado pela segunda vez, com uma ativista da CMP, tem duas filhas (12 e 6 anos) do primeiro casamento. Mora em residência própria (um apartamento da Cohab) e tem um Gol 1986 e um telefone celular ("comprado em seis vezes"). Vive do que lhe paga a CMP. Estuda o supletivo pelas manhãs. Leia trechos da entrevista. (LMC) * Folha - O que pretende a CMP? Raimundo Bonfim - Os movimentos populares são fragmentados. O papel principal da central é juntar esses movimentos e trazê-los, além das lutas específicas, para as lutas mais gerais, de mudanças profundas na sociedade. Folha - Como se organiza a logística das grandes mobilizações? Bonfim - Nós reunimos a direção nacional e tomamos a deliberação: "Ó, companheirada, a prioridade número 1 é dia 20 em Brasília". Aí entra o trabalho de articulação nos Estados e municípios, que têm fóruns próprios. Folha - Dê um exemplo. Bonfim - O do dia 20 (de maio), em Brasília. Minas levou 220 ônibus. Foi muito bom porque o conjunto de todas as entidades, que é o Fórum Estadual, soube trabalhar direito. O fundamental é o trabalho de quem está na base, as formiguinhas. Fazem bingos, saem arrecadando, mobilizam o pessoal. Motivação é que não falta. Folha - Como se dá a ligação com o MST? Bonfim - Já havia essa articulação antes de o MST atingir essa projeção. Em 1990, nós fizemos uma campanha chamada "Terra pra Morar e Terra pra Plantar". Folha - E hoje? Bonfim - O contato depende da conjuntura. Um deles foi no dia 25 de julho do ano passado. Eles estavam na marcha, ligaram para nós. Sentamos, avaliamos e decidimos fazer a marcha nas cidades. Folha - Qual é o objetivo dessa unidade? Bonfim - Um deles é colocar a reforma urbana na agenda nacional, com a mesma visibilidade que tem a questão da reforma agrária. Ocupar, no espaço urbano, o papel do MST na área rural. Folha - Esse é o objetivo maior? Bonfim - O objetivo maior é tomar o poder. Os trabalhadores assumirem o governo -e, a partir disso, construir o poder de fato. Folha - Como seria essa tomada do poder, concretamente? Bonfim - Além da luta pela moradia, pela saúde, pela educação, nós vemos o seguinte: com esse sistema que está aí, e com as pessoas que estão no governo, não é possível resolver esses problemas. Então, além de ir fazendo as pequenas conquistas, nós vamos levando o discurso de politização, que é necessário você eleger representantes comprometidos com os trabalhadores, eleger governadores, deputados, presidente e ir conscientizando a massa. Folha - A proposta, então, é pela via parlamentar? Bonfim - Parlamentar. Hoje não tem como ser de outra forma. Folha- Com que formas de luta? Bonfim - A mobilização. E ela vai crescer, independentemente da nossa vontade, porque o desemprego e a miséria são muito grandes. O governo tem sido um completo fracasso nesse sentido. É por isso que o movimento popular cresce e é, queiram ou não, um ator importante na sociedade. O Fernando Henrique deveria dar graças a Deus que a central e as outras entidades estejam organizando isso. Seria ruim pra democracia se fosse espontâneo. Folha - O que o governo Fernando Henrique pode esperar? Bonfim - As manifestações vão crescer. Vêm aí o 25 de julho e o 7 de setembro, onde nós estamos juntinhos. O governo pode esperar muita luta e muita mobilização. Texto Anterior: CMP quer ser a versão urbana do MST Próximo Texto: PFL aprova apoio a Maluf em convenção Índice |
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