São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998 |
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Dependência hoje é financeira, diz Faletto
DA REPORTAGEM LOCAL Continua válida a interpretação de que há uma relação de dependência entre países mais desenvolvidos e menos desenvolvidos.A diferença em relação ao que ocorria no passado é que hoje a dependência é mais financeira e tecnológica, afirma o sociólogo chileno Enzo Faletto. Antigamente, a Inglaterra, por exemplo, exercia seu poder sobre outros países controlando diretamente os setores industrial e comercial. Hoje, a forma de dependência mudou, mas ainda existe. Esse é um dos pontos sobre os quais ele e o presidente Fernando Henrique Cardoso, que na década de 60 escreveram em conjunto o livro "Dependência e Desenvolvimento na América Latina", divergem atualmente. Faletto, que participa esta semana de um seminário que se propõe a rever a teoria da dependência, é elegante ao comentar suas atuais divergências com FHC, de quem continua amigo. Ele diz que guarda boas lembranças da convivência com FHC e com sua família. Lembra, por exemplo, que, na época em que escreviam juntos o livro, ele ia quase todas as noites à casa onde FHC morava. "Era fácil escrever o livro; me davam garrafas de vinho para que eu falasse e eu falava e Fernando pensava..." Faletto também conta que gosta de brincar que o tema da dependência entrou, na verdade, por um equívoco nos estudos que fazia com FHC. Originalmente, cada um iria pesquisar um tema -FHC fazia um estudo sobre os empresários e Faletto, sobre o movimento operário. "Trabalhando nessa área, surgiu o tema da dependência. Uma das brincadeiras que costumo fazer é que o tema da dependência entrou no livro por acidente. Costumo brincar que uma secretária errou e em vez de colocar o título correto no livro, que era "Decadencia y Desarrollo", colocou "Dependéncia y Desarrollo" (o título em espanhol. Na edição em português, o título ficou sendo "Dependência e Desenvolvimento na América Latina"). Os dois estavam interessados em analisar o início do processo de desenvolvimento industrial na América Latina, em países como Uruguai, Argentina, Chile, México, "no Brasil nem tanto". Mas o interesse não era apenas sobre o lado econômico da questão. Eles queriam pesquisar o impacto dessas mudanças sobre as cidades. Ou seja, como o crescimento do setor industrial estava atraindo mais pessoas para as cidades e fazendo surgir favelas. Havia a idéia, conta ele, que as favelas e problemas semelhantes eram parte de uma situação importante, mas que seria transitória. Esperava-se que os grupos marginalizados nas grandes cidades seriam absorvidos pelo desenvolvimento do setor industrial. Daí surgiu a preocupação de dar uma explicação sociológica para um fenômeno eminentemente econômico. Texto Anterior: Intelectuais debatem obra teórica de FHC Próximo Texto: Veja o que é a teoria da dependência Índice |
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