São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998
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Brasil reduz a cárie infantil à metade

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil está colhendo os resultados de dez anos de fluoretação da água e dos cremes dentais, e da disseminação da educação para saúde bucal: a incidência de cáries entre crianças caiu 54% desde 1986 e está próxima da meta estipulada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para o ano 2000.
O indicador da OMS, chamado índice CPO, mostra o número de dentes permanentes cariados, restaurados, extraídos ou com indicação de extração em crianças de 12 anos de idade. A meta mundial da OMS para 2000 é CPO igual a 3.
Índice em queda
O índice CPO do Brasil em 1986 era 6,67. Ou seja, na média, as crianças brasileiras já tinham quase sete dentes atacados por cárie quando completavam 12 anos de idade. Esse índice caiu para 3,06 dentes cariados por criança em dez anos.
É o que mostra o Levantamento Epidemiológico em Saúde Bucal feito pelo Ministério da Saúde, em 1996, e disponível por meio da Internet, na página do Datasus (www.datasus.gov.br).
Levantamento
Foram examinadas crianças de 6 a 12 anos que frequentavam a escola nas 27 capitais brasileiras quando o levantamento foi feito. A pesquisa não atingiu cidades do interior.
Os especialistas dizem que o resultado da pesquisa merece ser comemorado, mas ressalvam que não há motivo para euforia. Há uma grande disparidade entre Estados, e o patamar alcançado pelo Brasil ainda está longe do da maioria dos países desenvolvidos.
"Essa é uma queda esperada. Há dez anos trabalhamos dentro das recomendações dos órgãos mundiais que tratam de saúde bucal", diz o presidente da Federação Odontológica Latino-Americana, Pedro Martinelli.
Adição de flúor
Uma das recomendações, no caso, é a adição de flúor na água encanada. Segundo o Ministério da Saúde, 42% da população brasileira tem acesso à água com flúor.
Outra causa dessa redução, segundo Paulo Capel Narvai, professor de odontologia preventiva e saúde pública da USP (Universidade de São Paulo), foi o uso de flúor, desde 1988, em praticamente todos os cremes dentais.
Nesse mesmo ano, a implantação do SUS (Sistema Único de Saúde), diz Narvai, permitiu a descentralização de verbas e a disseminação dos programas municipais de saúde bucal, ensinando crianças matriculadas em creches, pré-escola e primeiro grau como cuidar bem de seus dentes, para prevenir cáries.
Diferenças regionais
Apesar desses avanços, ainda são grandes as diferenças regionais em todo o país.
O Estado mais mal colocado no ranking da incidência de cárie, Roraima, tem um índice de CPO mais de quatro vezes superior ao do Estado mais bem colocado, o Espírito Santo.
O índice de 6,3 dentes permanentes atacados por cárie nas crianças de 12 anos da capital de Roraima, Boa Vista, equivale ao índice dos países com pior classificação no ranking da OMS, como o das Filipinas (5,8).
Já o índice CPO de 1,47 conseguido em Vitória (ES) é um dos poucos equiparáveis aos índices dos países industrializados, como Estados Unidos e Reino Unido (CPO de 1,4 em ambos os casos).
Comparação
Na comparação com o levantamento de 1986, fica claro que, apesar de a queda da incidência de cáries entre crianças ter sido expressiva em todas as regiões, ela foi menor nos Estados do Norte: -43%, contra -65% no Sudeste e -67% no Centro-Oeste.
Deficiências
Os especialistas da área debitam essa disparidade a dois fatores principais.
Em primeiro lugar, vem a dificuldade de acesso das populações pobres do Norte e Nordeste do país à água tratada.
Outro fator é a deficiência nos programas de saúde bucal desenvolvidos pelos governos e prefeituras dessas regiões do país.
"No Norte do Brasil (cujo índice CPO é de 4,27 dentes cariados por alunos) e no Nordeste (CPO de 2,88), por exemplo, o acesso à água é, por si só, um problema", afirma Capel Narvai, da Universidade de São Paulo.
"Já no Estado de São Paulo (CPO de 2,28 cáries por aluno) cerca de 90% da população tem acesso à água com flúor."

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