São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998
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Reggae Night

JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A LENS

O Mundial da França deve ficar mais alegre a partir de hoje, com a entrada em campo dos "reggae boyz", comandados pelo brasileiro Renê Simões.
Contra a também estreante Croácia, em Lens, os jamaicanos fazem, à noite na França, a primeira partida de sua primeira Copa.
O fato de estar no Mundial já é motivo de festa na Jamaica, um país em que, há não mais de uma década, o futebol era tido como um esporte de bandidos, jogado nos bairros mais barra-pesada de Kingston, sua capital.
As modalidades esportivas levadas a sério na ilha eram apenas o críquete e o atletismo (a Jamaica tem alguns dos corredores mais velozes do mundo).
Hoje, apesar de continuar precária a situação do futebol na ilha -existem poucos estádios, os campos são de terra, a profissionalização é incipiente-, a situação é outra. No dia seguinte à classificação para a Copa, o governo decretou feriado nacional.
O futebol é visto, cada vez mais, como um jogo democrático e de congraçamento, mais ou menos como o ritmo contagiante do reggae. Por conta, aliás, da música de Bob Marley e do jeitão sossegado dos jamaicanos (não por acaso seu lema é "No problem"), eles costumam despertar uma grande simpatia por onde passam.
Na França não é diferente. Ao chegar a Arc-en-Barrois, vilarejo de 870 habitantes que escolheu para sua concentração, no leste da França, a delegação jamaicana se surpreendeu com o que viu.
A pedido do prefeito, os lojistas haviam decorado suas vitrines com as cores da bandeira jamaicana. Uma rádio tocava "reggae" o tempo todo. Na vitrine de uma padaria, um cartaz apontava para um pão retangular de 30 por 40 centímetros: "Rasta Baguette".
Cercada pela simpatia geral, a comissão técnica jamaicana quer é justamente afastar seus pupilos da imagem festiva e exótica associada ao país (sexo, maconha e rastafari) e impor uma atmosfera de trabalho sério e profissional.
Renê Simões tem tentado manter seus atletas longe do assédio da imprensa e dos curiosos.
Nem sempre consegue. No dia em que chegaram a Arc-en-Barrois, por exemplo, os "reggae boyz" se apoderaram dos instrumentos de percussão da banda local que lhes dera as boas-vindas e improvisaram uma versão nada ortodoxa da tradicional "When the Saints Go Marchin' In".
Mas os próprios jogadores não parecem incomodados com o regime que lhes foi imposto. "Não viemos aqui para fazer festa, nem turismo", declarou o meia Fitzroy Simpson. "Queremos espantar o mundo. Nós mesmos não ficaremos espantados, pois sabemos do que somos capazes."
Para tentar mais essa proeza, eles contam com um time que combina a experiência dos jogadores "importados" da Inglaterra com a ginga jamaicana.
Nessa mistura de rock inglês, reggae e samba tem até um "Ronaldinho", o atacante Deon Burton, 22, que recebeu esse apelido por ter a cabeça raspada e uma ligeira semelhança física com o atacante brasileiro.

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