São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998
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DA ÁSIA A WALL STREET

DA ÁSIA A WALL STREET

A China, por enquanto, é o único país economicamente relevante da Ásia que resistiu aos choques sucessivos dos últimos meses. Torna-se cada vez mais, naquela região, o fiel de uma balança que se aproxima de um novo desequilíbrio.
Hong Kong, o encrave capitalista há um ano reintegrado à China, sofre o efeito de uma recessão cada vez mais profunda. Em outubro de 97, o "crash" de Hong Kong se refletiu em Wall Street e acabou provocando um pacote recessivo no Brasil.
O cenário complicou-se nos últimos dias com a desvalorização contínua do iene, que ultrapassou a barreira dos 140 por dólar. A moeda japonesa registra, assim, uma queda de cerca de 30% desde o início da crise asiática de 97, recolocando no horizonte os temores de uma nova onda de desvalorizações cambiais e colapsos financeiros na Ásia.
O governo chinês tem reafirmado seu compromisso com a estabilidade da sua moeda. Mas, se a queda do iene produzir uma nova rodada de perdas em outras moedas e Bolsas da região, dificilmente a China teria como resistir. As exportações chinesas já dão sinais de forte recuo. Cresceram 21% em 1997 e, nos quatro meses de 1998, a taxa reduziu-se a 12%.
Uma crise chinesa mudaria novamente os contornos do problema asiático. Na China, com 1,2 bilhão de habitantes, um cenário à Indonésia, com aumento rápido de desemprego e insatisfação popular, a conturbação teria dimensão incalculável.
As potências ocidentais, a começar pelos EUA, têm mostrado consciência da necessidade de contribuir para enfrentar a crise. Mas uma turbulência chinesa, difícil de conter, teria mais do que efeitos regionais. Os governos aparentemente não teriam recursos financeiros suficientes para amparar ao mesmo tempo o Sudeste Asiático, o Japão e a China.
Aliás, há também problemas de monta que se acumulam, silenciosamente, na principal economia ocidental. As previsões de crescimento nos EUA tornam-se cada vez menos otimistas e os impactos da depressão asiática sobre as empresas norte-americanas já começam a surgir.
O endividamento das famílias é também recorde nos EUA. Na semana passada, o Congresso aprovou novas regras tentando impor limites mais severos ao endividamento. Os bancos, envolvidos nos últimos meses numa nova onda de fusões e aquisições, também se envolveram intensamente no financiamento a operações especulativas nas Bolsas.
Ou seja, embora as atenções continuem voltadas para a crise asiática, supondo que os EUA possam em última análise "ancorar" o Japão ou a China, a economia norte-americana cultiva a sua própria bolha.
O que ninguém se atreve a dizer é como e com que velocidade tal bolha especulativa poderia ser furada num ambiente de contração econômica.
Fica no entanto cada vez mais claro que a crise financeira parece não ter fronteiras nem duração previsíveis.

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