São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998
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Viagem à "Mama" África

FERNANDO MICHELOTTI

Zimbábue conserva raízes da cultura afro-brasileira e seduz turistas com safáris e vida selvagem
Conhecer a África é uma ótima oportunidade para entender melhor coisas típicas do Brasil, como a batucada, roda de capoeira ou um prato de vatapá. No Zimbábue, o turista vai encontrar as raízes da cultura afro-brasileira rodeadas por uma natureza africana: savanas povoadas por elefantes, zebras e girafas, rios perfeitos para canoagem, que hospedam crocodilos e hipopótamos, e as cataratas mais famosas do continente, Victoria Falls.
Harare, a capital, tem 1,6 milhão de habitantes e possui boa infra-estrutura turística, com hotéis e aeroporto. É o ponto de partida para marcar safáris fotográficos e excursões pelos parques ecológicos do país -já com as reservas em bangalôs e hotéis do interior.
Para conhecer a vida selvagem das savanas e florestas africanas, além das agências de turismo especializadas, uma boa opção é alugar um carro. As estradas são bem conservadas e sinalizadas. Não é difícil encontrar hospedagem e restaurantes ao longo do caminho: a caça é um dos pratos mais comuns do Zimbábue. Ao longo das estradas, vendedores mostram peças do rico artesanato local, feito em madeira e pedra. As estradas também são visitadas eventualmente por javalis e outros animais selvagens.
Ma os melhores locais para se observar a fauna africana são as savanas. No Huange National Park, o turista pode ficar hospedado em hotéis ou acampamentos. Localizado no oeste do país, na fronteira com Botsuana, em uma região típica de savana, o parque tem observatórios próximos aos lagos onde zebras, hipopótamos e javalis vão beber água. Não esqueça do binóculo e da máquina fotográfica. Difícil não se lembrar do desenho "O Rei Leão" e sair cantando "hatuna matata" quando se observa uma típica família de leões.
Outra alternativa é alugar um jipe com motorista e passear pelo parque observando a natureza. Os guias, além de transportar os turistas, têm informações sobre os hábitos de cada animal.
Atualmente, o país possui mais de cinco parques nacionais com áreas protegidas. Além do Huange, podem ser visitados o Matusadona e o Chizarira National Parks, também na região oeste do país, ou o Nianga National Park, na fronteira com Moçambique, localizado na região das terras altas, com uma geografia mais montanhosa. As savanas do centro e oeste são substituídas por florestas temperadas, que podem ser percorridas em caminhadas ou com bicicletas.
Preservação
Dentro dos parques, é obrigatório respeitar os horários de visitas e as regras que protegem os animais. Uma das principais preocupações atuais do país é a sua preservação ambiental, pois o Zimbábue passou nas últimas décadas por um acelerado processo de desmatamento e de devastação pela caça indiscriminada: outro ponto em comum com o Brasil. Os dois países participam do programa Lead (Lideranças em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável), que junto com outras dez nações tentam encontrar soluções para os problemas sociais e o desenvolvimento sustentável das regiões tropicais.
Apesar de toda a preocupação ecológica, ainda é bastante comum encontrar nos restaurantes pratos com carne de zebra, avestruz, javali, crocodilo e outras caças. Os ovos de avestruz também são muito apreciados pela culinária do Zimbábue. Para quem não é simpatizante da ecologia, também não é difícil encontrar artigos de pele de crocodilo. Os artigos com a pele do animais estão na região do rio Limpopo, no sudoeste do país, perto das cidades de Chiredzi e do Parque Nacional de Gondrez.
Victoria Falls é a cidade mais turística do Zimbábue. Às margens do rio Zambeze, na fronteira com o Zâmbia, no extremo oeste do país, estão as famosas cataratas, consideradas uma das sete maravilhas do mundo.
A "chuva de água" que sobe das quedas é tão forte que modifica a vegetação local. Canoas e barcos podem ser alugados para passeios no rio Zambeze, quarto maior da África, que nasce no noroeste da Zâmbia e segue um caminho de 2.700 quilômetros até desembocar no Índico, em Moçambique.
É proibido nadar no rio, porque ele é habitado, entre outras coisas, por crocodilos. Os animais adultos podem atingir até quatro metros de comprimento. Outra barreira para os turistas que se aventuram rio abaixo são os hipopótamos. Os animais não costumam ser tão agressivos quanto os crocodilos mas, se eles se sentem ameaçados, podem se tornar perigosos.
Nos barcos grandes ao longo do passeio são feitos shows folclóricos e servidas comidas típicas. Os aventureiros podem tentar rafting, canoagem -segundo experiência própria, há o risco da canoa virar e de você ter que ficar agarrado em um galho ou pedra até ser resgatado pelo monitor. Mais adrenalina, impossível. Um bungee jump de 111 metros de altura sobre a ponte do rio Zambeze completa o roteiro de esportes radicais.
A língua oficial do Zimbábue é o inglês. Portanto, quem domina o idioma não terá dificuldade de ser entendido pela população local. Porém, a maior parte da população fala no dia-a-dia o shona. Aprender algumas palavras da língua nativa, como magwanani (bom dia), masikti (boa tarde) ou manheru (boa noite) é um excelente "quebra gelo" com a população local, sempre disposta a uma conversação animada.
Arqueologia
Um paradoxo interessante de se observar no Zimbábue é sua recente história como país independente, sendo que ele é um dos berços da raça humana. No Great Zimbabwe Park, a 292 km da capital, o turista encontra sítios arqueológicos de valor mundial, com os vestígios da antiga civilização bantu, que povoou a região há 2.400 anos.
Próximo de Bulawayo, a segunda maior cidade do país, encontram-se pinturas rupestres de civilizações pré-históricas e as famosas ruínas de Khame.
Apesar de ser uma das primeiras regiões do mundo a ser povoada pelos homens, o Zimbábue só conseguiu sua independência em 1980.
A antiga Rodésia, colônia britânica, conquistou a independência depois de uma guerra que se iniciou na década de 60. Durante a década de 80, o país teve um regime socialista e, nos anos 90, o governo estabeleceu um plano de reajuste econômico com privatizações e cortes nos serviços sociais. O país atualmente passa por problemas de desemprego crescente, concentração de terra e população sem terra e sem teto nos grandes centros urbanos.
Apesar dos problemas sociais, há uma fase política tranquila, e o turista não deve se preocupar com guerras ou guerrilhas. Mas alguns cuidados devem ser tomados, principalmente referentes ao clima tropical: as águas são tratadas e potáveis nas cidades grandes, mas, se você viajar pelo interior, só é recomendável água mineral. Pílulas purificadoras são facilmente encontradas em farmácias e supermercados do interior do país.
Também não arrisque a nadar em rios ou lagos, que podem estar contaminados por parasitas e protozoários ou um desagradável lagarto de água, muito comum na região.
Antes de entrar no Zimbábue, o turista deve se vacinar contra febre amarela e todo cuidado é pouco com a malária: nas farmácias do país estão disponíveis remédios contra a doença e repelentes de mosquitos, absolutamente necessários.

Serviço
Pacotes: Highland Adventures: US$ 3.990. O pacote inclui 12 dias com passagem aérea, pensão completa, hospedagem, traslado e safáris. Próximas saídas dias 5 e 19 de julho e 4 de outubro. Tel. 0800-558-667. Ambiental: US$ 3.721. O pacote inclui sete dias no norte do Zimbábue, safáris em canoas e veículos 4x4, hospedagem e traslado. Tel. 870-4600. Passagem aérea: US$ 1.487 (até 28 de junho) e US$ 1.619, SP-Harare-SP, permanência mínima de seis dias e máxima de dois meses. Pela South African Airways: tel. 259-1522.

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