São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998
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Daqui ninguém me tira

FÁBIA PRATES

Para adolescentes, acampamento traz possibilidade de fazer novas amizades e tira o tédio dos dias de férias em família
Pode parecer ridículo perguntar a um adolescente que viagem prefere fazer durante as férias quando as opções são um cruzeiro de navio pela Grécia ou passar uma temporada em um sítio nos arredores de São Paulo. Mas os adolescentes têm dispensado o passeio internacional simplesmente porque "adoram acampar". Eduardo Augusto Coelho dos Santos e Daniela da Silva Machado, ambos com 14 anos, são os chamados "piolhos de acampamento", pois, depois de irem pela primeira vez, querem voltar sempre.
A alternativa de acampamento não é bom apenas para os pais que querem "despachar" os filhos. Daniela, em suas últimas férias de julho, dispensou a viagem que faria com a família para a Argentina para ficar em um acampamento. Eduardo foi, "mas contra sua vontade". "Eu fui contrariado", disse Eduardo, que frequenta colônias de férias há sete anos. "Você fica livre e descansa dos pais".
O empresário Adriano Albino Machado, 41, pai de Daniela manda os três filhos -ela e dois irmãos, um de 15 e um de 12 anos- para um acampamento todos os anos, em julho. Mas Daniela gosta tanto do programa (foi pela primeira vez em 93) que junta boa parte da mesada para repetir em janeiro.
A unanimidade entre esses adolescentes é que "as atividades promovidas nos acampamentos e as novas amizades são os grandes atrativos". Os pais parecem aprovar. Machado, pai de Daniela, disse que "as viagens ajudaram a filha a acabar com a timidez".
A psicóloga Rosely Sayão considera "sadia" a opção pelos acampamentos, já que quando chegam as férias muitos adolescentes ficam perdidos e acabam se distraindo apenas em frente à TV."O adolescente vai se socializar. No acampamento ele convive com pessoas diferentes do convívio escolar. Vai aprender a viver sem ter adulto monitorando", disse.
Daniela quer continuar frequentando acampamentos, mesmo depois dos 17 anos, idade máxima aceita pelas empresas. E quando não puder ser mais acampante, irá como monitora.
Fernando Carrijo, de 9 anos, já foi dez vezes e vai de novo em julho. "Eu nem chorei quando fui a primeira vez, quando tinha 4 anos. É divertido, a gente faz zoeira, se joga na lama e não tem mãe para gritar 'Fernando vai trocar de roupa', não tem mãe para encher o saco. Eu fico com a roupa suja se quiser".

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