São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998
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Lentidão ameaça liderança da Volks

DA REPORTAGEM LOCAL

Manter-se no topo do mercado brasileiro tem sido tarefa difícil para a Volkswagen. O primeiro indicativo disso é o comparativo entre a parte do bolo que lhe cabia há alguns meses e a fatia que a marca retém hoje.
As vendas no atacado (da montadora para as revendas), em janeiro do ano passado, equivalia a 39% de todo o mercado. Exatamente um ano depois, essa participação caiu para 30%. No mês passado, a Volks ficou com 28% do bolo.
Segundo os números divulgados pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), a Volkswagen comercializou 0,94% menos automóveis e picapes nas vendas acumuladas de 97, em relação a 96.
Pistas
A Fiat, segunda maior montadora do país, registrou no mesmo período aumento de 13,4% nas vendas, segundo a entidade.
As outras duas grandes, Chevrolet e Ford, também apresentaram resultados positivos: 7,3% e 61,3%, respectivamente.
Revendedores e clientes dão pistas sobre as razões para a queda da marca mais respeitada no país.
"O consumidor demorou para reconhecer que há falta de produtos e defasagem tecnológica na linha Volkswagen", afirma Décio Berman, da Fórmula 7, uma revendedora independente.
Para Berman, modelos como Gol e Parati estão totalmente ultrapassados, sem contar o pobre pacote de equipamentos de série e opcionais disponíveis.
Para ter uma idéia, Fiat Palio e Chevrolet Corsa têm 19 e 17 desses itens à disposição do cliente, respectivamente, enquanto o Gol oferece apenas 11.
Um revendedor VW, que preferiu não se identificar, reclamou de problemas semelhantes. Para ele, não há flexibilidade nos pacotes de equipamentos.
"Poderia haver itens de carros grandes, como ar-condicionado e câmbio automático, em carros pequenos, por exemplo."
Mas o grande problema, segundo alguns revendedores, é o preço dos carros. "Os preços VW são mais caros no atacado e não são competitivos, não acompanham o mercado", diz um deles.
Por "mercado", entende-se os preços praticados pela Fiat, que normalmente batem os da Volks.
Na semana passada, por exemplo, a revenda Cibramar vendia um Gol CL 1.6 99, com desembaçador traseiro e pára-brisa dégradé, ao preço de R$ 18,2 mil. A Fiat Metropolitana, por sua vez, oferecia um Palio EL 1.6, com direção hidráulica, trava e vidro de acionamento elétrico e pintura metálica, por apenas R$ 100 a mais.
Coelho e tartaruga
O presidente da Abracaf (associação das concessionárias Fiat), Humberto Pereira Carneiro, diz que a agilidade da Fiat faz a diferença, além da capacidade de oferecer novos modelos com design mais atraente.
"Hoje, não é mais o grande que come o pequeno. É o rápido que come o lento", compara.
O diretor de Marketing da Sopave, Naul Ozi, prefere abordar outro lado da questão. Segundo ele, o acabamento feito pela Volks é muito melhor, e o custo de manutenção é mais barato.
"Considerando só esses dois aspectos, os modelos da Volks acabam sendo mais baratos no final."

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