São Paulo, quarta-feira, 17 de junho de 1998
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Seca no CE aumenta mortalidade infantil

Crescimento é de 26,2% este ano em relação a 97

PAULO MOTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

A seca já provocou um crescimento de 26,2% na taxa de mortalidade infantil do Ceará, nos quatro primeiros meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 97.
Os dados são da Secretaria da Saúde do Ceará, que faz pesquisa mensal com base nos registros coletados por cerca de 8.700 agentes de saúde que atuam no Estado.
A pesquisa revela que o quadro de mortalidade infantil no Ceará é mais grave do que mostrou um levantamento divulgado semana passada pela Comissão Pastoral da Criança, entidade da Igreja Católica. Segundo a pastoral, nos três primeiros meses deste ano morreram 28 crianças em 1.000 nascidas no Estado. No mesmo período de 97, a proporção foi de 16 mortes para cada 1.000 nascimentos.
A diferença nos dados explica-se porque a pesquisa feita pela Pastoral refere-se apenas a um universo de 27.350 crianças com até um ano atendidas pela instituição.
Outro índice de piora é o aumento em 30% no atendimento do Iprede (Instituto de Prevenção à Desnutrição), que atende em Fortaleza cerca de mil crianças com alto grau de desnutrição.
No Hospital e Maternidade São Francisco, em Canindé (106 km a oeste de Fortaleza), 80% das cerca de 120 crianças que são atendidas mensalmente na unidade pediátrica estão desnutridas. Canindé é uma das cidades mais atingidas pela seca no Ceará.
O secretário da Saúde do Ceará, Anastácio Queiroz, disse que a mortalidade infantil sempre cresce nos quatro primeiros meses do ano, mas em 98, segundo ele, o crescimento foi maior que o esperado. "O início do ano é crítico porque as chuvas poluem a água consumida pela população. Como houve seca, piorou a qualidade da água, com o agravante do calor e da desnutrição", diz Queiroz.
A Fetraece (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Ceará) estima que 85% da produção agrícola do Ceará esteja perdida devido à seca. No interior do Estado, a falta de chuvas faz com que a temperatura chegue a até 35C. Em 22 dos 184 municípios cearenses, o abastecimento de água tem sido feito por carros-pipa.
Segundo Queiroz, o governo cearense adotou um pacote de medidas de combate à mortalidade infantil. A primeira delas foi reforçar o trabalho dos agentes de saúde, que foram fundamentais para reduzir a taxa de mortalidade infantil do Estado nos últimos dez anos. Em 86, morria 127 de cada 1.000 crianças nascidas. Em 97, morreram 39,6 de cada 1.000.
Desde abril, a Secretaria da Saúde vem distribuindo um milhão de litros de leite tipo longa vida para a população de 49 municípios considerados mais críticos. Os carros-pipa estão sendo obrigados a tratar a água antes de entregá-la. "As medidas já estão dando resultados positivos e a taxa de mortalidade caiu de 75,4, em fevereiro, para 43,8, em abril", diz Queiroz.

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