São Paulo, quarta-feira, 17 de junho de 1998
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Estamos ou somos não competitivos?

PAULO ROBERTO FELDMANN

Jeffrey Sachs, um dos mais conceituados economistas norte-americanos da atualidade, professor de Harvard, em entrevista concedida a esta Folha no domingo (14/6/98), endossa um recente estudo divulgado pelo World Economic Forum que mostra um grande retrocesso na competitividade brasileira. De 1996 para 1997, o Brasil passou do 42º para o 46º lugar no ranking mundial dos países mais competitivos.
O Brasil só é considerado mais competitivo que 6 entre os 53 países que foram analisados: Colômbia, Polônia, Índia, Zimbábue, Rússia e Ucrânia.
Seria injusto o resultado? Mal elaborado o estudo? Infelizmente, não. E o que é pior, o desempenho das exportações brasileiras neste início de 1998 sinaliza que é bem possível que no próximo relatório do World Economic Forum nossa colocação caia ainda mais.
O nível das exportações é um dos principais indicadores que permitem aferir a competitividade de uma nação. E infelizmente neste aspecto não há como negar que estamos muito mal. Apesar de sermos 3% da população da Terra, detemos apenas pífio 0,7% das exportações mundiais.
Sachs rótula de medíocre o resultado das reformas efetuadas no Brasil, nos últimos anos, apesar de reconhecer como extremamente positivo o fim da inflação. Infelizmente somos obrigados a concordar que, do ponto de vista do aumento da produtividade das nossas empresas, muito pouco aconteceu. E o que preocupa é que nada está sendo feito que indique que estejamos no limiar de uma mudança significativa.
Na verdade boa parte do problema está no fato de que nossos economistas e formuladores das políticas de desenvolvimento somente têm dado sua total atenção aos aspectos macroeconômicos, como inflação, moeda, taxas de juros e emprego, os quais inegavelmente são muito importantes.
Resolver os problemas macroeconômicos pode ser uma condição necessária, mas não é suficiente para aumentar a competitividade das empresas.
Por incrível que possa parecer, apesar dos problemas específicos e individuais das empresas, o governo tem muito a fazer se pretende aumentar o nível de competitividade do país como um todo. Afinal de contas não existe país competitivo sem empresas produtivas. Ou seja, é hora de pensar mais nas empresas e, consequentemente, na microeconomia.
É vital, por exemplo, que se definam quais os setores da economia brasileira que possuem vantagens que lhes permitam sucesso no mercado internacional.
Para esses deve ser feita uma cuidadosa análise da cadeia produtiva, estudando onde estão os gargalos, os quais, em boa parte, existem devido ao uso de equipamentos e tecnologias obsoletas.
Se for esse o caso, não seria mais adequado o governo facilitar a modernização tecnológica desse setor produtivo?
Para alguns setores, principalmente aqueles em que predominam micro e pequenas empresas, o problema pode estar na incapacidade gerencial dos administradores ao não saber lidar com as questões de comércio exterior.
Não seria o caso de o governo criar um programa de capacitação gerencial para os mesmos? Se não o governo, quem vai fazê-lo?
Enquanto a globalização praticamente obriga as empresas a participar do mercado internacional, sabe-se que tal participação é feita cada vez mais por grandes empresas ou conglomerados, devido principalmente às economias de escala que estes possuem.
Isso significa que a micro e a pequena empresa nunca vão conseguir exportar? Não, se houver um esforço de coordenação das pequenas empresas de um determinado setor produtivo no sentido da criação de cooperativas voltadas para a exportação. Quem melhor que o governo para desempenhar este papel indutor?
Para aumentarmos nossas exportações, temos que ser mais competitivos que os nossos rivais. Tendo diagnosticado em que setores apresentamos potencial para competir internacionalmente, precisamos de um plano de apoio.
Sem atuação governamental nesses aspectos de ordem microeconômica, corremos o risco de continuar onde estamos. Os economistas do governo precisam reconhecer que o arsenal de medidas macroeconômicas está se esgotando. É hora de mexer na microeconomia.

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