São Paulo, quarta-feira, 17 de junho de 1998 |
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Parreira já admite a eliminação
JOSÉ GERALDO COUTO
A Arábia Saudita tem expectativa demais e futebol de menos. Essa é a avaliação do técnico da seleção saudita, Carlos Alberto Parreira. Em entrevista exclusiva, Parreira mostrou-se cético quanto às possibilidades de classificação à segunda fase. Para isso, o time precisaria pelo menos empatar com a França, amanhã, em Saint Denis. Parreira falou à Folha no carro que o levava da concentração, em Sénart (a 65 km de Paris), ao hotel parisiense Plaza Athenée, onde o príncipe Sultan faria um discurso de exortação à equipe. * Folha - Como você vê a situação da Arábia depois da derrota para a Dinamarca? Há ainda esperança? Carlos Alberto Parreira - Em 94, por várias circunstâncias -seis meses de treinamento intensivo, jogos disputados sob forte calor-, a Arábia passou às oitavas. Isso criou uma expectativa que não corresponde ao futebol saudita, que para mim é um futebol amador: os jogadores têm salários baixos, a mentalidade ainda é muito amadora, os jogadores não podem atuar em clubes estrangeiros. Folha - E agora, há alguma chance, contra a França? Parreira - A França é dona da casa e tem um timaço. Vai jogar com 80 mil torcedores a seu favor. Como é que podemos ter a responsabilidade de reagir na competição em cima da França? A mentalidade dos árabes ao vir para a Copa devia ser outra. Deveria ser: vamos fazer o melhor possível. Como dizem os americanos: "Have fun. Enjoy it". Mas existe uma pressão grande. Tem que ganhar da França. Não ganhando, vai ser outra decepção. Veja que perspectiva equivocada. Nosso time está no seu limite. O que mostramos contra a Dinamarca é o que podemos fazer. Se vier um empate contra a França é lucro, porque nos coloca em perspectiva de classificação. Queríamos um ou três pontos no primeiro jogo para esse, contra a França, não ser o jogo de maior pressão. Folha - É verdade que o príncipe pediu explicações pela derrota? Parreira - Não tem nada disso. O problema não são os príncipes. A imprensa e os torcedores não têm a noção que nós temos. Trabalhei com a seleção brasileira em três copas, sei o que é um Pelé, um Romário, um Falcão. A gente sabe o nível desses jogadores. Eles acham que é tudo igual. É só treinar dois meses, chegar e ganhar. Folha - Quais são as principais deficiências da equipe? Parreira - A Arábia não tem um organizador de jogo e não tem um matador na frente há muitos anos. Tanto que, em cada amistoso que fizemos, sempre criamos quatro ou cinco chances e fizemos só um gol, ou nenhum. Al Jaber e Owairan são bons jogadores, mas gostam de sair da área, não são matadores. Você viu o Klinsman contra os EUA: deu chance, ele conferiu. Contra a Dinamarca, o adversário bloqueou bem, mas esbarramos também nas nossas deficiências técnicas. Você não faz um jogador criativo em dois meses de treinamento. Ou você tem o jogador ou não tem. Eu não tenho. Folha - O time vai jogar na retranca contra a França? Parreira - Não. A gente vai se defender, mas na hora que pegar a bola vai sair para o jogo. A gente não prende o time atrás. O problema é que às vezes, na hora de sair, a gente erra (risos). Não é que não queira ir para a frente. É que fica no meio do caminho. Texto Anterior: Desatenção preocupa Camarões Próximo Texto: Governo, islamismo e futebol se misturam no país do Oriente Médio Índice |
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