São Paulo, quarta-feira, 17 de junho de 1998
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Divisão na Colômbia ameaça processo de paz

OTÁVIO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

A apenas cinco dias do segundo turno, marcado para domingo, a Colômbia vive um paradoxo.
Por um lado, há unanimidade de que a pacificação do país é um dos maiores desafios do próximo presidente ao lado do desemprego.
Por outro, o país chega às urnas dividido. Os dois candidatos, Horacio Serpa, do Partido Liberal (no governo), e Andrés Pastrana, do Partido Conservador, estão tecnicamente empatados, com ligeira vantagem para o primeiro.
Segundo pesquisa realizada pelo instituto Napóleon Franco entre 8 e 14 de junho, Serpa tem 43,3% das intenções de voto. Pastrana tem 40,8%. Há 6,7% de indecisos e 8,8% de votos em branco.
Essa divisão do eleitorado pode comprometer o que há de mais importante nessas eleições: a substituição do atual presidente, Ernesto Samper, fraco e impopular, por um chefe de Estado que tenha credibilidade e votos suficientes para liderar o processo de paz e recuperar a economia do país.
A credibilidade de Samper foi dinamitada um dia após sua eleição, em 1994, quando Andrés Pastrana, derrotado no segundo turno por 0,5% dos votos, denunciou que o presidente eleito havia recebido US$ 6 bilhões do narcotráfico para financiar sua campanha.
Samper passou a primeira metade de seu mandato como refém dos políticos, tentando evitar a condenação em um processo de impeachment. Para sobreviver no poder, teve de fazer concessões, e surgiram diversas denúncias de corrupção.
A doação de campanha do narcotráfico foi comprovada, mas Serpa foi inocentado pelo Congresso em 1996. Seu governo, entretanto, já estava perdido.
As duas principais guerrilhas do país -o ELN (Exército de Libertação Nacional) e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)- se negaram a dialogar com Samper e controlam atualmente cerca de 40% do território colombiano. Nos últimos quatro anos, também houve uma escalada da atividade dos paramilitares, grupos armados de direita apoiados por fazendeiros e, segundo denúncias, auxiliados também pelo próprio Exército. A cada ano, cerca de 6.000 pessoas morrem por causa da guerra civil no país.
Com todo esse conjunto desfavorável, é surpreendente que o candidato governista, Horacio Serpa, tenha uma pequena vantagem sobre Andrés Pastrana.
Serpa foi caixa de campanha de Samper, ministro do Interior de seu governo e o maior defensor do presidente durante a investigação feita pelo Congresso Nacional.
Apesar do relacionamento íntimo, tem conseguido se distanciar do presidente, utilizando com frequência a frase "Serpa é Serpa, Samper é Samper".
Advogado atuante em sindicatos, Serpa, 55, tem a seu favor uma longa trajetória de cargos públicos em seu país. Foi juiz, procurador-geral, vereador, prefeito, vice-presidente da Assembléia Constituinte de 1991 e ministro.
Especialista também atribuem a pequena vantagem à força das máquinas do governo e do Partido Liberal, que detém a maior parte dos cargos governamentais nas Províncias e nos municípios.
Mais jovem, o jornalista e também advogado Andrés Pastrana, 53, foi prefeito de Bogotá, capital do país, e quase venceu as eleições presidenciais de 1994.
Neste ano, ele liderou as pesquisas até as vésperas do primeiro turno, em 31 de maio, quando perdeu votos para a independente Noemí Sanín, 49, terceira colocada. Serpa acabou em primeiro, mas com uma vantagem de apenas 0,5% dos votos. Resta saber se os votos de Sanín irão majoritariamente para Serpa ou para Pastrana. A candidata independente não declarou sua preferência.

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