São Paulo, quarta-feira, 17 de junho de 1998
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GREVE NÃO, REFORMA SIM

A greve dos professores das universidades federais lamentavelmente já dura mais de dois meses. Vão ficando patentes a vocação corporativa do movimento e o obsoletismo de seus líderes, representados pela Andes (o sindicato dos docentes).
A paralisação é condenável em especial por prejudicar milhares de estudantes, sob o risco de perder o semestre letivo. Tornou-se ainda mais insustentável quando deixou de lado suas reivindicações para degenerar numa manifestação genérica de repúdio às políticas do governo.
A greve de fome iniciada anteontem por um grupo restrito de docentes, caricatura do radicalismo estudantil da Andes, é um sintoma de que o movimento abandona o diálogo sensato e a preocupação de buscar soluções para o ensino superior federal.
Decerto que, de início, o governo mostrou uma intransigência que, mais tarde, se comprovou desnecessária. O MEC enfim poderia ter cedido em algo ou reconhecido a gravidade do problema. Mas a intransigência, e intransigência irracional, mudou definitivamente de lado. Desperdiça-se, dessa forma, a oportunidade de começar a discutir a urgente reforma do ensino superior, que gasta mal e não premia quem merece.
A questão salarial é apenas a ponta mais visível do problema de uma universidade que vive séria crise de financiamento e que, no atual modelo, não teria como aplicar de modo eficaz os recursos de que viesse a dispor. Se o governo é culpado por não ter viabilizado uma proposta de autonomia das federais, em função de divergências entre o MEC e a equipe econômica, também a Andes não se preocupou com a reforma porque ela poderia representar racionalização e uma ameaça ao corporativismo que essa entidade defende.
Sem uma reforma profunda de suas estruturas, o ensino superior não tem saída. O governo, depois de endurecer com o movimento, decidiu pagar os salários aos grevistas e encaminhou uma proposta de aumento que hoje parece ser a possível. É hora de dar fim a essa greve e voltar a discutir a reforma do ensino público superior, antes que se acelere o processo de sua já avançada deterioração.

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