São Paulo, domingo, 21 de junho de 1998
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Capitalismo regulado torna-se nova tendência

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O responsável pela direção do banco central mais importante do mundo, Alan Greenspan, abriu fogo na semana passada contra a ofensiva regulatória do Departamento de Justiça dos EUA. Entretanto, praticamente ao mesmo tempo, o banco central dos bancos centrais, o "Bank for International Settlements" (Banco de Compensações Internacionais), na Suíça, divulgou seu relatório anual pedindo maior atenção à regulação dos mercados financeiros.
Depois de quase 20 anos de aceitação passiva e até euforia com a liberalização dos mercados, a nova tendência é de rediscussão do "laissez-faire". A idéia de um capitalismo regulado volta a ganhar força e torna-se uma nova tendência não só intelectual, mas prática.
Aliás, o próprio Greenspan, no seu depoimento ao Senado norte-americano, aceita como um dado que em alguns setores a intervenção do governo é inevitável, na definição de regras e de limites à concentração do poder econômico, como nas telecomunicações e no sistema bancário.
No caso dos Estados Unidos, a preocupação dos reguladores volta-se para a formação de monopólios, de empresas gigantescas que dominam os mercados. Em escala global, os sistemas financeiros nacionais enfrentam um fenômeno semelhante de concentração. Para o BIS, o poder de mercado dos investidores institucionais (como fundos de pensão, de investimento e seguradoras) é a principal fonte de preocupação.
Gigantes financeiros
Os investidores institucionais dos EUA, Japão e Europa Ocidental controlam nada menos que US$ 21 trilhões (dados de 1995), soma que ultrapassa o produto dos 18 países que formam o clube dos mais ricos.
Segundo cálculos do BIS, uma alteração de apenas 1% na composição dos investimentos mantidos pelos sete países mais ricos seria o equivalente a 27% dos mercados acionários asiáticos e a nada menos que 66% de todos os mercados acionários da América Latina.
Ou seja, uma pequena mudança de sentimento e expectativas no Primeiro Mundo pode arrastar fulminante e rapidamente os mercados emergentes rumo à mais catastrófica submersão.
Entre as conclusões do BIS está a recomendação de que o setor privado assuma ao menos alguma responsabilidade na hora da crise. Por exemplo, garantindo a oferta de crédito para os devedores em apuros que, antes, eram tão elogiados quanto disputados.
Outro alerta importante do BIS, repetido ao longo do relatório, é para a necessidade de autoridades e instituições financeiras entenderem melhor as relações entre preços de ativos e ciclos de crédito.
Bancos e empresas, a partir de certo momento no ciclo de crescimento e euforia, emprestam e tomam emprestado não para produzir, construir fábricas ou consumir, mas para comprar ativos financeiros.
Algumas apostas no mercado de fusões e aquisições acabam portanto no rol das operações apenas eufóricas.
O BIS recomenda (e Greenspan relativiza) que a liberalização dos mercados continue sendo um objetivo, a ser perseguido com vigor, mas prudentemente.
Essa prudência, que não cabe na fórmula de nenhum economista, é a nova Meca do capitalismo regulado do século 21.

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