São Paulo, domingo, 21 de junho de 1998
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Presidente vai precisar de 'extrema ousadia'

OTÁVIO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

O tema da paz ocupou o centro da campanha eleitoral que se encerra hoje na Colômbia, com a escolha, em segundo turno, do novo presidente do país.
Mas, segundo diversas pessoas envolvidas no estudo da violência ouvidas pela Folha, as perspectivas de uma solução pacífica para o conflito crônico que vive o país ainda são pequenas e o processo para atingi-la será bastante longo.
Isso não quer dizer que o novo presidente colombiano, seja o liberal Horacio Serpa ou o conservador Andrés Pastrana, não tenha de dar início o mais rápido possível, preferencialmente antes mesmo de tomar posse, em agosto próximo, às negociações de paz.
A urgência se deve a dois fatores. Em primeiro lugar, o processo de paz na Colômbia foi um dos pontos centrais da atual campanha eleitoral. Os dois candidatos finalistas se comprometeram a negociar diretamente com os atores da violência no país.
Em segundo lugar, o novo presidente colombiano precisa mostrar extrema ousadia, pois, do contrário, corre o risco de ver seu governo desmoralizado por uma nova espiral de violência.
O novo presidente tem ainda mais um desafio: precisará iniciar os diálogos de paz em meio à guerra, pois será praticamente impossível obter uma trégua nos conflitos neste momento.
A guerra interna envolve, de um lado, duas guerrilhas de esquerda -as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o ELN (Exército de Libertação Nacional)- e, do outro, diversos grupos paramilitares de direita, reunidos na organização Autodefesas Unidas da Colômbia. O terceiro ator no conflito é, obviamente, o Exército da Colômbia.
"É muito difícil obter uma trégua neste momento porque todos os grupos envolvidos no conflito acham que estão vencendo a guerra", afirma o professor Alejandro Reyes, pesquisador nas áreas de violência e narcotráfico da Universidade Nacional, em Bogotá.
Os números mostram que Reyes está certo. De 90 a 94, os integrantes das guerrilhas saltaram de 7.800 para 10.900. Os paramilitares, que surgiram no final dos anos 80, já são cerca de 5.000.
O conflito tem matado cerca de 6.000 pessoas ao ano e outras 200 mil, em especial trabalhadores rurais e habitantes de cidades do interior, são obrigadas a abandonar suas casas para fugir da violência.
Ambos os lados são parcialmente financiados pelo narcotráfico, a quem interessa a insegurança.
Mas Reyes faz denúncia ainda mais séria: guerrilheiros e paramilitares estão em guerra para controlar territórios estratégicos para o cultivo de coca e de papoula.
"Quem controlar essas terras, vence a guerra", diz.

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