São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 1998
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Pedreiros, vigias, camelôs e faxineiros substituem 'Brasil moderno' no velório

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil dos "agroboys" e das "patricinhas country" não apareceu para velar o corpo de Leandro na Assembléia Legislativa.
Eram pedreiros, vigias noturnos, cobradores de ônibus, faxineiras, camelôs, meninos de rua, engraxates e desempregados os rostos que tentavam ver o cantor pela última vez.
Quase não havia sinal da classe média ascendente que, no início dos anos 90, cantarolava as músicas da dupla e contribuía para torná-la símbolo da era Collor, junto com o telefone celular, o jet ski e as pick-ups importadas.
"Você me conhece, filho?", perguntava Israel de Jesus Costa, 36, um paulista de sapatos gastos, sem meias e roupas muito simples.
"Puxe pela memória. Tenho certeza que você já me viu. Sou o famoso palhaço Tesourinha, também conhecido como o mímico Sombra. Graças a Deus, meu nome pegou no Brasil todo. Estou estourando, seguindo a mesma trilha que o pobrezinho do Leandro acabou de deixar."
Mostrou retratos em que aparece perto do cantor Agnaldo Timóteo e da apresentadora Christina Rocha. "Correram umas fofocas por aí, sabe? Comentaram que tive um caso com ela. Mas é mentira inventada, coisa de invejosos."
Discorreu, então, sobre as agruras da fama. "Chateia um pouco. Basta sair na rua que o povo me agarra. Sempre causo tumulto. Só hoje que não-porque me disfarcei. Repare que estou de óculos escuros e não fiz a barba. É para confundir as fãs."
Também contou que, como Leandro, trabalhou na roça. "Fui lavrador de laranja, perto de Barretos." Ultimamente, vive de se apresentar em ruas e bares de São Paulo. "Imito o Chaplin, mas o meu forte mesmo é incorporar o palhaço Tesourinha, o retirante Mala Seca e o mímico Sombra."
Não lamenta a falta de dinheiro. "Ganho bem. Logo, logo, vou acumular fortuna. Outro dia, passei o chapéu pela praça e um bacana colocou US$ 100."
Jura que gravou um clipe, que em breve comandará um show infantil e que já cantou no programa "do Barros de Alencar"-"uma música que começava assim: Olhe, meu amor, não quero ser o cara triste que ficou chorando, esperando você'."

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