São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 1998
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Mãe acusa ex-prefeito por morte de filho

CRISPIM ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A mãe do pintor Marcos Antônio Andrade, assassinado no dia 22 de fevereiro deste ano na saída de um baile de Carnaval em Francisco Morato (Grande SP), acusa Luiz Carlos dos Reis (PDT), prefeito cassado da cidade, de ser o mandante do crime.
O político, que foi cassado na última sexta-feira por diversas irregularidades administrativas, nega. O nome da mulher não foi revelado por motivos de segurança.
Andrade era namorado de Evelyn Aparecida Abrahão Zenan, 17, uma das 11 pessoas mortas na chacina ocorrida na madrugada do último dia 17 em um bar no centro da cidade. Anteontem, a Justiça decretou a prisão temporária dos PMs Alexandre Gomes e Antonio Acyr Camargo. Os dois são acusados do assassinato de Andrade e suspeitos de ter ligação com a chacina. Eles foram reconhecidos por uma testemunha.
Durante o baile, Andrade teria discutido com o soldado Gomes, que queria beber gratuitamente.
Evelyn foi uma das únicas testemunhas da morte do namorado e chegou a dizer para amigos e parentes que policiais militares estavam envolvidos, mas não oficializou a denúncia à polícia. Há suspeitas de que a chacina tenha sido uma queima de arquivo.
Dois dias antes de morrer, Andrade teria dito a seguinte frase à mãe: "Se eu morrer, a senhora sabe quem é. É o Carlão (como é conhecido o prefeito cassado)." Para o promotor, a frase estaria relacionada ao fato de Andrade ter distribuído um jornal (o único da cidade) que trazia reportagem sobre o bloqueio de bens do então prefeito. O jornal pertenceria a um adversário político de Reis.
Apesar da prisão temporária dos dois PMs, Sá Júnior disse que as suspeitas de Reis ser o mandante da morte de Andrade não se alteram. "Elas existem em função do depoimento da mãe de Andrade."
Além disso, o promotor revela outro fato: a prisão Cláudio Pires, ex-PM e um dos seguranças de Reis. Pires, amigo do soldado Gomes, foi preso por portar uma arma com numeração raspada.
"Apesar de aumentarem as suspeitas contra Gomes, pedi para fazer perícia nas balas encontradas no corpo de Andrade com a arma apreendida com o Pires."
Quando o ex-PM foi preso, Reis teria feito pressão junto à polícia para que o segurança fosse solto. Ele teria, inclusive, enviado várias pessoas até o DP, entre elas Gomes. Pires está solto há quase um mês. "O prefeito é um dos suspeitos do assassinato de Andrade, mas não dá para fazer ligação com a chacina", disse Sá Júnior.

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