São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 1998
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Artistas homenageiam o futebol

ALCINO LEITE NETO
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

O francês de origem italiana Enrico Navarra não liga para futebol. Não assistiu a nenhum dos jogos pela TV. Nem está em seus planos acompanhar a final do campeonato. Foi ele no entanto o responsável por reunir 80 artistas plásticos de todo o mundo e realizar o que talvez seja a maior mostra de arte já feita a partir do tema "futebol".
A exposição recebeu o nome "80 Artistas em Torno do Mundial" e ocupa agora os dois endereços da Galeria Enrico Navarra, uma das principais de Paris, e também a Galeria Hôtel Square.
Apenas três obras não foram feitas para a mostra: os jogadores gorduchos da francesa Niki Saint-Phalle, a bola de bronze do americano Jeff Koons e o retrato do jogador Platini feito pelo brasileiro Rubens Gerchman.
Os demais 77 trabalhos são originais, criados por nomes expressivos, como a iugoslava Marina Abramovic, o francês César, o norte-americano Nam June Paik e o tcheco Jiri Georg Dokoupil, que retratou a seleção brasileira numa gravura de 98 cm por 1,30 m.
"As artes plásticas precisam romper seu círculo exclusivista e aproximar-se do público", diz ele.
São tantas, que ele mandou instalar detrás de sua mesa o quadro de francês Jean Le Gac ("Ateliê - Com Futebol") e colocou ao seu lado uma escultura do espanhol Baltasar Lobo que mostra dois jogadores enlaçados, disputando uma bola ("Os Futebolistas").
Outras obras estão expostas nas vitrines da galeria e no jardim aos fundos, como a escultura de um árbitro feita por Richard Di Rosa ("O Árbitro ou Cartão Amarelo"), a única dedicada a esse personagem mal-amado do futebol.
A maioria dos trabalhos toma a bola ou formas circulares como tema. Há a bola com asas na tela de Valerio Adami ("Para o Futebol"), o raio X de uma bola e dois pés na hora de um drible por Steve Miller ("Foot + Ball"), a bola num conjunto de imagens redondas quase surrealistas na tela de Francesco Clemente ("Tender Lie").
Outras obras evocam os times, os jogadores e as imagens do campo, como "Maradona", escultura de Ricardo Mosner, "Corner", de Fernando Canovas, ou ainda o campo de futebol minimalista na tela de Brian Clarke.
Navarra levou três meses para reunir os trabalhos, desde que contatou 30 galerias em todo o mundo para que elas propusessem o tema a seus artistas. No Brasil, foi o diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Emanuel Araújo, que serviu de conselheiro a Navarra.
Todas as obras estão à venda. As mais baratas custam 30 mil francos (cerca de US$ 5 mil). A peça mais cara é a escultura de grande proporção em bronze do chinês de Taiwan Ju Ming: 1 milhão de francos (US$ 166 mil). A bola de Jeff Koons, também em bronze, custa 350 mil francos (US$ 58 mil). Até a última semana, várias obras já haviam sido vendidas.
Gerchman e Aldemir Martins são os dois únicos brasileiros da mostra. Na seleção dos artistas, o Brasil ocupa menos espaço do que a França, que têm o maior número de criadores, e os EUA. Há ainda uma boa quantidade de asiáticos.
Um catálogo de 178 páginas foi publicado com reproduções de todos os trabalhos. Navarra é também editor de livros de arte e foi ele quem produziu o álbum da exposição de Jean-Michel Basquiat que está acontecendo nestes dias na Pinacoteca de São Paulo.

Onde encontrar - av. Matignon, 16, rua do Faubourg Saint-Honoré, 75, e rua de Boulainvilliers, 3. Até 31 de julho.

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