São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 1998
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Não será fácil

ALBERTO HELENA JR.

E aconteceu o pior. Não pela derrota em si, já que estamos nos especializando em perder para a Noruega -um time, aliás, aqui entre nós, que tem um futebolzinho assim pequenino, ó.
O diabo foi perder do jeito que perdemos, de virada, nos últimos dez minutos de partida. Isso baixa o moral da tropa mais bem treinada, que dirá da nossa, que está procurando seu melhor jogo já durante a competição.
Bem que, no início, demos a impressão de que iríamos, na pior das hipóteses, repetir a performance que tivemos diante de Marrocos. Os noruegueses plantadinhos lá atrás, com oito, às vezes nove, jogadores na marcação, e nós, aqui, só tocando, à espera da brecha decisiva.
Mas, aos poucos, começaram a aparecer nossos defeitos: Roberto Carlos era esquecido, solto, na esquerda, em troca de tentativas sobre tentativas, todas inúteis, de penetrarmos pelo meio congestionado. Denílson, obviamente tenso, raramente arriscava uma daquelas séries de dribles desmoralizantes que justificaram sua entrada no time, enquanto Rivaldo, caía definitivamente no vácuo que lhe representa a meia-direita, onde não consegue desenvolver seu futebol feito de fintas e arranques.
Por fim, Leonardo -o outro vértice da nova figura geométrica desenhada por Zagallo e que se delineava, antes do jogo, bastante interessante-, embora fechasse bem o espaço intermediário, não conseguia dar aquele toque de classe na saída de bola lá de trás, como se esperava. Ao contrário: errava tanto que parece ter contagiado Dunga, até ontem, o campeão de passes certos.
Resultado: o tempo escorreu penosamente, até que Denílson, finalmente, acertou dois dribles pela esquerda, recuperou-se de uma falta sofrida e cruzou na medida para a cabeça de Bebeto.
Os noruegueses, porém, responderam em cinco minutos, com Flo, claro.
E, já no finzinho, o juiz arrumou um pênalti (Júnior Baiano antecipou-se ao adversário e aparou a bola com o peito -o que ele marcou?), que Rekdal converteu.
Que praga, hein?
Agora, além de recuperarmos nosso jogo, teremos de recompor a alma de vencedor, o que não será fácil.

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