São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 1998
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Disco tem menos idéias

PAULO VIEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Já aconteceu com Luiz Melodia, Ben Jor, Gal Costa, Milton Nascimento. Lançar-se sobre o próprio repertório pode ter resultados desastrosos, e Beto Guedes não é a exceção que confirma a regra. "Dias de Paz" não acrescenta grandes idéias -muito pelo contrário- às boas e, eventualmente, ótimas idéias que Guedes teve em 77 ("Lumiar", "Maria Solidária"), 80 ("Pedras Rolando") etc.
É verdade que aquelas gravações foram feitas em mesas de pouquíssimos canais e agora reaparecem em 48. Mas e daí?
Há intervenções inexplicáveis, como o saxofone sempre adocicado, inadequado, de Leo Gandelman, já na introdução de "Amor de Índio", ou um solo de guitarra ao final de "Sol de Primavera". "Lumiar" ganha comentários de uma seção de metais polidos demais, e "Pedras Rolando" sofre com o vocal titubeante de Toni Garrido -à maneira que faz em seu grupo, insistindo em prolongar as vogais.
Quanto às novas, "Dias de Chuva", versão dos Carpenters, tem timbres de teclado dignos de shows de Ângela Rô Rô (costuma ser o único instrumento que ela tem grana para bancar nesses eventos) e um coral gospel pouco crível.
É estranho imaginar que Guedes esteja por trás disso tudo, ele que é um excelente arranjador, instrumentista prolífico e, mais que isso, sensível. Talvez seja uma détente para o seu retorno. Ele agora compõe também apoiando-se em programas inteiros de pedais ou teclados eletrônicos.
Em "Asas", a nova versão de " Belo Horror", que gravou em 73, e que lembra escancaradamente "Close to the Edge", do grupo progressivo Yes, Guedes usou o "Fantasy", que praticamente reproduz o solo de Steve Howe na suíte "Soon". "Só que o Howe fazia aquilo na guitarra", reconhece ele.
(PV)

Disco: Dias de Paz
Artista: Beto Guedes
Lançamento: Sony Music
Quanto: R$ 18 (em média)

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