São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 1998
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É o câmbio...

ANTONIO DELFIM NETTO

Nossas autoridades monetárias, que não separaram a taxa de câmbio e os frutos da "musa paradisíaca" e que hoje são "bananeiras que deram cacho", sempre afirmaram que não havia nada errado com o setor externo brasileiro. A supervalorização do real até o primeiro trimestre de 1995 era resultado -diziam- da sua "fortaleza". Nada havia a fazer porque ela era produzida pelo mercado. O que não diziam é que o "mercado" era construído pelo próprio Banco Central, com as maiores taxas de juros do universo.
Para inibir a reação do setor exportador, chamaram-no de inepto e inventaram a teoria de que o "câmbio forte aumentava a produtividade da economia". Esqueceram de dizer que esse "câmbio forte" exigia a "escorchante" taxa de juros real que vem destruindo o patrimônio do setor produtivo brasileiro, transferindo-o para os "rentistas eficientes". Os resultados dessa política sobre o volume físico das exportações de produtos industrializados brasileiros foi devastador, como se vê na tabela abaixo:
Entre 1994 e 1997 a expansão foi menor do que 1% ao ano! O recente "surto exportador" é bem-vindo, mas é ainda uma promessa construída sobre subsídios protecionistas que o governo escolhe a quem conceder.
O fato curioso é que, depois de negarem "cientificamente" qualquer valorização do real durante três anos, afirmam agora com a mesma convicção "científica" que ela está sendo superada lenta e seguramente. Sem rubefação estimam até o quanto se recupera por ano: mais ou menos 4%. Quando Rip Van Winkle acordar, daqui a cinco anos, o câmbio real estará em equilíbrio. O que não explicam, outra vez, é de que "equilíbrio" se trata.
O recente "World Economic Outlook" do FMI, de maio de 1998, pág. 38, demoliu essa ilusão. Calculando a taxa de variação do câmbio real efetiva por dois métodos alternativos (dos quais tomamos a média), mostra entre junho de 1997 e março de 1998 os seguintes números:
O cálculo do FMI leva em conta não apenas as taxas de câmbio bilaterais, mas também as exportações para terceiros países ponderados pelo valor do comércio de cada parceiro. Nove meses de valorização cambial (7,4%) carregaram consigo quase dois anos de ajustes ilusórios! E o Brasil pagou um terrível preço em termos de perda de produção e emprego.

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