São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 1998
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D. Lucas deixa CNBB e vai para o Vaticano

ABNOR GONDIM

ABNOR GONDIM; LUIS HENRIQUE AMARAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Crescem as chances de cardeal suceder o papa após se indicado para a congregação responsável pela nomeação de bispos

O papa João Paulo 2º transformou ontem d. Lucas Moreira Neves, 72, em uma das autoridades católicas mais importantes do mundo, reforçando as especulações sobres as chances do religioso brasileiro na sucessão papal.
D. Lucas deixou a Arquidiocese de Salvador e a presidência da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) para se tornar uma espécie de ministro do papa. Ele assumiu a prefeitura da Congregação para os Bispos, responsável pela criação e fusão de dioceses e pela nomeação de bispos.
Trata-se de uma das mais importantes congregações do Vaticano. Todos os cardeais e arcebispos do mundo dependem dela para promover um padre a bispo.
D. Lucas também foi nomeado pelo papa para presidir a Comissão Pontifícia para América Latina e se tornou o sexto cardeal-bispo, cargo honorífico mais elevado na hierarquia dos cardeais.
"Se antes d. Lucas era cogitado para a sucessão do papa, há muito mais o que dizer agora", disse d. Demétrio Valentini, coordenador da Pastoral Social da CNBB.
Assessores da CNBB disseram que acham difícil d. Lucas disputar da sucessão do papa. Ele sofre de diabetes e vai completar 73 anos em setembro, idade considerada avançada para se candidatar ao cargo máximo da Igreja Católica.
Ao completar 75 anos, d. Lucas terá de oferecer sua renúncia ao papa. Isso aconteceu com cardeal Bernardim Gantin, que dirigia a Congregação para os Bispos.
Durante a entrevista coletiva, d. Lucas negou que pretenda participar da sucessão do papa. Disse que irá trabalhar para aumentar o número de dioceses existentes no Brasil. Atualmente são 270, número considerado por ele insuficiente por causa da população católica existente no país.
"Não sei que número de dioceses seria ideal no Brasil", disse d. Lucas. "Felizmente, está havendo aumento da vocação sacerdotal."
Na entrevista, ele manteve o estilo moderado que caracterizou sua passagem pelo cargo, iniciada em 1995. Não quis falar sobre as articulações para sua nomeação.
D. Lucas também evitou responder se preferiria indicar candidatos afinados com a orientação conservadora do papa. "Eu não sou borboleta nem outro inseto para receber um rótulo de conservador", disse ele.
Em fevereiro de 1997, d. Lucas reagiu a críticas do presidente Fernando Henrique Cardoso a bispos brasileiros que apóiam os sem-terra. As críticas foram feitas depois que FHC se reuniu com o papa.
O religioso afirmou que aceitou o convite para atender a um pedido de João Paulo 2º. "Ele não precisa me dar ordens. Basta que ele exprima um desejo", disse.
Segundo d. Lucas, o papa gostaria de ter um brasileiro na cúpula da Igreja Católica. Antes de d. Lucas, outro brasileiro a ocupar o cargo de prefeito no Vaticano foi d. Agnello Rossi, ex-arcebispo de São Paulo. Na década de 80, ele dirigiu a Sagrada Congregação para a Evangelização dos Povos.
"Eu vejo minha nomeação como resultado do desejo do papa de ter um brasileiro trabalhando na sua assessoria direta", disse d. Lucas. "Há outro brasileiro trabalhando no cargo de secretário de uma congregação, d. Geraldo Majella. Não havia outro prefeito brasileiro na Santa Sé", afirmou ele.
Ao aceitar o convite do papa, d. Lucas se tornou o primeiro presidente da CNBB a deixar o cargo antes de concluir o mandato de quatro anos.
Comando
A substituição de d. Lucas por d. Jayme no comando da CNBB precisou de uma nova eleição. Participaram dela apenas os nove integrantes da CEP (Comissão Episcopal de Pastoral), órgão diretivo da CNBB que estava em reunião em Brasília desde o início da semana.
Depois da eleição de d. Jayme, foi eleito para a vice-presidência da entidade d. Marcelo Pinto Carvalheira, arcebispo da Paraíba.
D. Marcelo teve destaque na imprensa nos últimos meses por ter sido o primeiro religioso a defender os saques por famintos.
Suas declarações, feitas durante a Assembléia Geral da CNBB em abril, acabaram desencadeando um debate no país sobre se os saques seriam legalmente ou moralmente aceitos.

Colaborou Luis Henrique Amaral, da Reportagem Local

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