São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 1998
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FHC admite desvalorizar menos o real

VALDO CRUZ; VIVALDO DE SOUSA; CARI RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Presidente nega mudança já e diz que não foi procurado pela equipe econômica para discutir o assunto

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse que tem "lógica" reduzir a desvalorização cambial, medida que permitiria uma queda maior das taxas de juros. "Que é lógico, é lógico, mas não significa que vamos adotar isso", afirmou FHC.
Segundo o presidente, uma redução na desvalorização cambial permitiria uma queda maior nas taxas de juros do Banco Central. "Há margem para desvalorizar (o câmbio) menos e reduzir mais os juros."
FHC comentava declarações atribuídas ao presidente do Banco Central, Gustavo Franco, que teria defendido uma redução nas desvalorizações cambiais devido à queda da inflação.
Anteontem, o Banco Central reduziu sua taxa básica de 21,75% para 21% ao ano, praticamente voltando ao patamar anterior ao auge da crise asiática, em outubro do ano passado (20,7%).
Até agora, o Banco Central tem fixado os juros levando em conta a necessidade de manter os rendimentos dos investidores externos, que o país precisa atrair para compensar suas perdas na balança comercial.
Como a desvalorização do real significa perda para os investidores, os juros precisam ser altos o suficiente para cobrir essa perda. O governo, porém, quer reduzir os juros.
Expectativas
No mercado, já há quem aposte que o Banco Central vá optar por reduzir o ritmo de desvalorização cambial para que as taxas de juros possam cair mais.
O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola disse à Folha que espera para este ano uma desvalorização abaixo de 7%. No ano passado, a desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar ficou em 7,49%.
Nas projeções feitas pela Tendências Consultores Associados, da qual Loyola é um dos sócios, a desvalorização mensal do real em relação ao dólar deve ficar em 0,52% no próximo mês e em 0,43% de agosto a novembro.
Em dezembro, a desvalorização ficaria em 0,42%. De acordo com as estimativas, as desvalorizações feitas ao longo do ano ficariam acumuladas em 6,3%, para uma inflação estimada entre 3% e 4%.
"Não há outro caminho para reduzir os juros", disse o economista Roberto Padovani, da Tendências Consultores.
Segundo ele, o principal ponto indefinido é quando o governo reduzirá o ritmo de desvalorização do real.
Prazo
Ontem, o "Jornal do Brasil" publicou declarações atribuídas ao presidente do Banco Central, Gustavo Franco, segundo as quais a desvalorização cambial poderia ser reduzida no curto prazo.
A assessoria do BC negou as declarações, divulgando que Franco defendeu a tese para o médio e o longo prazos, como já fazia a equipe econômica.
FHC afirmou que não foi procurado pela equipe econômica para discutir o assunto. "Ele (Gustavo Franco) não conversou comigo. Ninguém da equipe me procurou. O governo não está discutindo esse tema."
FHC comentou as declarações de Gustavo Franco durante almoço com um grupo de jornalistas no Palácio da Alvorada.
Ele aproveitou a discussão sobre economia para dizer que a redução nas taxas de juros não tem motivação política.
"Não há nenhuma implicação política nisso. Estamos reduzindo é a taxa de juros do Banco Central. O maior problema é o juro para o consumidor."
FHC repetiu que não concorda com a proposta do PT de acelerar a desvalorização cambial para aumentar as exportações. "Não precisa. Tanto não precisa que as exportações estão crescendo", disse.
Ele apontou que as exportações de manufaturados estão crescendo 11% ao ano. Acelerar a desvalorização cambial, segundo FHC, é punir o trabalhador.
Maio
O mês de maio registrou a menor taxa de desvalorização do real em relação ao dólar no ano: 0,54%. Foi, em 98, a primeira desvalorização mensal abaixo de 0,6% -índice que, em 12 meses, acumularia 7,4%, taxa registrada em 97.
A cotação do dólar passou de R$ 1,1443 em 30 de abril para R$ 1,1505 no último dia útil de maio.
No mês passado, o governo permitiu uma variação mais livre das cotações do dólar.
O Banco Central conduz uma política de alargamento gradual das chamadas minibandas cambiais -os intervalos dentro dos quais as cotações podem flutuar livremente.
O sistema de bandas e minibandas teve início em março de 95, logo após a crise mexicana.

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