São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 1998
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Entenda os dilemas da política cambial

Como era antes do Plano Real
. Até junho de 94, o Banco Central corrigia a taxa de câmbio de acordo com a inflação. Dessa forma, quando os preços subiam 40%, a cotação do dólar subia pelo mesmo índice
Vantagens: o preço em dólar dos produtos brasileiros permanecia constante, mantendo o volume das exportações, que superava o das importações. Com superávit comercial, o país dependia pouco do capital externo
Desvantagens: o Banco Central acabava sancionando a inflação, uma vez que os empresários poderiam elevar preços sem perder mercado no exterior. Os trabalhadores perdiam poder aquisitivo, porque preços em cruzeiros e em dólares estavam sempre em alta

O que aconteceu no Plano Real
. O Banco Central deixou de corrigir a taxa de câmbio levando em conta a inflação. Nos primeiros meses, a cotação do dólar chegou a cair de R$ 1 para R$ 0,83. A partir de março de 95, o BC passou a atuar para elevar as cotações, mas sem se comprometer com índices de inflação
Vantagens: com a valorização do real em relação ao dólar, os produtos importados ficaram mais baratos em moeda nacional, os empresários não puderam mais elevar seus preços e a inflação caiu rapidamente. O poder aquisitivo da população foi elevado
Desvantagens: os produtos brasileiros ficaram mais caros em dólar, dificultando as exportações. Com maior poder aquisitivo em moeda estrangeira, o país elevou suas importações e viagens internacionais, o que elevou a dependência em relação ao capital externo, que precisa ser atraído para compensar as perdas de dólares. Para manter as importações sob controle, o governo restringe o crescimento econômico por meio de altas taxas de juros

O que o governo está fazendo
. O Banco Central vem promovendo uma desvalorização gradual do real em relação ao dólar desde março de 95. A partir do ano passado, a desvalorização passou a superar os índices de inflação -neste ano, deve chegar a 7,4%, para uma inflação de 4%
Vantagens: as exportações têm melhorado aos poucos, sem fazer disparar os índices de inflação. Com isso, a perspectiva é equilibrar a balança comercial dentro de dois ou três anos
Desvantagens: a instabilidade financeira na Ásia e na Rússia deixa dúvidas se o país terá tanto tempo para equilibrar sua balança comercial, uma vez que as dificuldades de atrair capital externo tendem a ser crescentes. Também não se sabe até que ponto será possível desvalorizar o real sem provocar a inflação. Para os consumidores, a desvalorização do real provoca perda do poder aquisitivo (fica mais caro, por exemplo, viajar ao exterior ou comprar produtos importados). A dívida externa se torna maior em moeda nacional. A desvalorização também obriga o BC a manter juros mais altos, para compensar as perdas dos investidores externos e mantê-los no país

Alternativa 1: acelerar a desvalorização do real
. Proposta defendida pelos partidos de oposição. Uma alternativa mais extrema, hoje quase sem defensores, seria promover uma maxidesvalorização, ou seja, fazer as cotações do dólar atingirem o ponto desejado de uma só vez
Vantagens: as exportações cresceriam mais rapidamente, e as importações cairiam. Com a eliminação do déficit comercial, o país passaria a depender menos do capital externo
Desvantagens: quanto mais rápida a desvalorização do real, maior o risco de alta da inflação. Uma subida da inflação anularia os efeitos positivos da desvalorização, uma vez que os produtos brasileiros estariam ficando mais caros e menos competitivos no exterior. Todas as desvantagens da desvalorização do real seriam acentuadas, inclusive a necessidade de manter juros altos

Alternativa 2: reduzir o ritmo da desvalorização do real
. Hipótese é -ou foi- estudada pela equipe econômica. De concreto, o Banco Central tem procurado intervir menos no mercado, o que pode resultar em uma desvalorização mais lenta do real se a entrada de dólares no país for alta (quanto mais dólares circularem no mercado, menores tendem a ser as cotações, a menos que o BC intervenha)
Vantagens: haveria maior espaço para reduzir os juros, uma vez que os investidores externos perderiam menos com a desvalorização cambial. O controle da inflação seria mais fácil, e o poder aquisitivo cairia menos. Contas públicas melhorariam com a queda dos juros
Desvantagens: aumentaria a incerteza em relação ao país, porque o prazo para o equilíbrio da balança comercial ficaria mais distante. Governo poderia dar a impressão de estar adiando ajustes na economia em função do calendário eleitoral. Cresceria, portanto, o risco de investidores estrangeiros deixarem o país com medo da evolução do quadro econômico. Na hipótese de saída em massa de dólares, a desvalorização cambial seria forçada pelo mercado, em vez de conduzida pelo governo

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