São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 1998
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Terror!

JOÃO BATISTA NATALI; JOEL SILVA
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Bomba explode dentro de apartamento em Paris, matando uma iugoslava e seu namorado

Uma bomba de fabricação caseira explodiu ontem, pouco antes das 18h30 (13h30 em Brasília), no segundo andar de um prédio de apartamentos no 11º distrito de Paris.
Uma mulher de origem iugoslava com cerca de 40 anos, Irene Stollerz, e seu namorado com cerca de 20, de identidade e nacionalidade ainda desconhecidas, morreram na hora.
A polícia francesa não dispunha, até por volta da 1h de hoje, de informações mais conclusivas sobre o incidente ou de suas eventuais ligações com a Copa da França.
Um porta-voz policial, contatado pela "Agence France-Presse", disse apenas ser "pouco provável" que se trate de um ato terrorista.
Ele não forneceu, no entanto, indicações que permitissem concluir que tudo não passou, ao contrário, de um ato de vingança pessoal.
As duas vítimas moravam num prédio sem elevador e de três andares, o de número 8 do Impasse Truillot, junto à igreja de Santo Ambrósio. Irene Stollerz trabalhava como faxineira em Paris.
Segundo vizinhos, ela aparentemente não tinha inimigos ou problemas com terceiros.
Além do namorado, que também morreu, residiam no local dois filhos dela, ambos adolescentes, de 14 e 17 anos.
Eles não se encontravam em casa no momento da bomba e estavam sendo interrogados no início da madrugada.
Segundo um dos vizinhos, depois da forte explosão o corredor do segundo andar foi tomado por uma fumaça escura, indício de um grande incêndio, que finalmente não chegou a ocorrer.
Como era o artefato
A fumaça havia sido provocada pela bomba. Embrulhada num pacote, ela continha explosivo, cacos de vidro e ainda pedaços de aço e ferro. Quem a confeccionou tinha o evidente propósito de matar e mutilar a vítima.
Um grupo de 20 bombeiros foi ao local em três veículos. Duas ambulâncias foram chamadas para o recolhimento de eventuais feridos. Mais tarde, um camburão transportou os cadáveres.
O administrador regional do bairro em que a explosão ocorreu, Georges Sarre, que também é deputado por aquele distrito eleitoral parisiense, foi a mais alta autoridade a se pronunciar.
Ele limitou-se a negar que ela tenha sido provocada por um bujão defeituoso. Paris é servida por uma rede de gás de rua. Não há na cidade cozinhas com fogão alimentado por gás engarrafado.
O ministro do Interior, Jean-Pierre Chevenement, que é na França a mais alta autoridade policial, não fez declarações, o mesmo ocorrendo com o primeiro-ministro, Lionel Jospin.
O silêncio de ambos pode ser interpretado como uma tentativa de minimizar o suposto atentado, ou ainda de impedir, por ausência de maiores provas, que ele ganhe uma dimensão alarmista nas horas que precedem a conclusão da fase eliminatória da Copa.
As emissoras francesas de rádio e TV foram discretas ao noticiar ontem à noite o episódio. A rádio France-Info, com programa ininterrupto de jornalismo, dava no início da madrugada destaque maior ao atentado que vitimou, na Argélia, o cantor Lounes Matoub, conhecido ativista que se opunha ao fundamentalismo islâmico.
O presidente Jacques Chirac, em visita oficial à Namíbia, primeira etapa de uma viagem a países da África Austral, distribuiu nota em que lamentou o assassinato de Matoub. Mas não fez menção à explosão ocorrida em Paris.
A TF-1, um dos três canais públicos franceses, citou a morte da imigrante iugoslava como a oitava informação mais importante da noite. Com destaque bem maior, foram noticiadas as vitórias da Alemanha sobre o Irã e da Iugoslávia sobre os EUA.
A França tomou precauções, antes do início da Copa, para evitar a ocorrência de atentados que teriam, como suposta origem, grupos islâmicos extremistas, baseados na Argélia ou no Líbano.
Preventivamente, efetuou expulsões que não foram objeto de protesto de partidos de oposição (neo-gaullistas e liberais), normalmente atentos a escorregadas oficiais em direitos humanos.
A oposição tampouco protestou contra a expulsão de torcedores ingleses e alemães, suspeitos -com ou sem provas- de "hooliganismo" fora dos estádios.

Colaborou Joel Silva, do "Notícias Populares"

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