São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 1998
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Ronaldo na cruz

JUCA KFOURI

Pelé pôs o pescoço de Ronaldo na guilhotina na mesa redonda da TV Globo.
A imprensa francesa, com mostrou Clóvis Rossi ontem, faz cálculos para mostrar como custa caro um chute do melhor jogador do mundo ao gol.
Zagallo diz que ou ele joga mais pelos lados e aparece, ou continuará a ser anulado pela forte marcação dos adversários.
Se não bastasse, seu joelho está em discussão, e o fisioterapeuta Nilton Petroni, o Filé, sempre ele, lembra que desde que foi operado, antes dos Jogos Olímpicos, Ronaldo precisa de exercícios especiais para fortalecer a musculatura, pois sofreu a cirurgia ainda muito menino.
À época, os holandeses previam quatro meses de recuperação para o atacante. Filé abreviou esse prazo para 20 dias, com todas as consequências que daí possam surgir.
O que era para ser a Copa de Ronaldo está virando seu calvário, tão grandes são a cobrança e a expectativa em torno do rendimento do artilheiro.
E ontem era claro o abatimento do "Fenômeno" durante o treino da seleção, a ponto de Zagallo cercá-lo de carinhos especiais.
Que a bola não está chegando nele como devia, com todo respeito a Pelé, à imprensa francesa, a Clóvis Rossi e a Zagallo, é o óbvio ululante.
Tanto que ele tem vindo buscar jogo e saído inteiramente de suas características.
É verdade que também na Inter de Milão a bola pouco chega nele. Mas chega e, quando isso acontece, é quase sempre em condição de gol -e quase sempre é gol.
Pode parecer piegas, mas algo me diz que a ausência de Romário está fazendo duplamente mal à seleção brasileira.
Em primeiro lugar, pela ausência em si e, em segundo, pela solidão a que Ronaldo ficou relegado -protegido que era pelas asas do Baixinho.
Por paus ou por pedras, ou Ronaldo reage ou a França será o país de sua via crucis.
*
Precavidos, alguns jornalistas brasileiros que terão o privilégio de voltar com a seleção - entre os quais não se incluem os desta Folha- trataram de fazer suas comprinhas desde já.
Afinal, no domingo o comércio fecha, e o seguro morreu de velho.

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