São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 1998
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O BC E AS ELEIÇÕES

O Banco Central, quando Gustavo Franco comandava a área internacional, levou o uso do câmbio contra a inflação às últimas consequências.
O erro de supervalorizar o câmbio custou e ainda custa caro. Aliás, tem sido reconhecido o impacto daquele erro inicial sobre os cofres do Tesouro, sobre os setores exportadores, sobre os desempregados e falidos pela forte competição dos importados e pela política de juros escorchantes, sem a qual teria sido impossível defender o câmbio irrealista.
Felizmente, reconhecido o erro, o BC vinha sendo ao menos capaz de implementar uma estratégia de gradualmente tentar corrigir o atraso cambial. Um percurso doloroso, pois a inflação ficou próxima de 3% enquanto a taxa de câmbio varia em torno de 6% a 7% ao ano.
Dos juros que entram nos cálculos dos investidores externos deve ser descontada a correção cambial. O resultado para o país é a necessidade de manter juros muito mais altos que a inflação e a correção cambial. O Brasil tem assim uma das taxas de juros mais altas do mundo. Mas, ao menos, tentava-se corrigir o erro.
Mas é evidente que juros altos e crescimento baixo, com desemprego alto, são uma combinação fatal em tempos de eleição. Eis que, agora presidente do Banco Central, Gustavo Franco se disse a favor da redução no ritmo de correção cambial.
Se o governo adotasse agora esse novo modelo, seria possível uma queda maior das taxas de juros no período que antecede as eleições. O presidente FHC nega que o assunto esteja sendo discutido. Oficialmente, o BC ontem reafirmou que são apenas planos para o médio prazo.
Seria, de fato, uma estratégia arriscada, capaz até mesmo de comprometer a credibilidade da política econômica. Os investidores avaliariam tal medida como resultado de um populismo de circunstância. Nesse caso, a manutenção do atraso cambial poderia ser vista como fator de incerteza, que projeta dúvidas sobre a política econômica após as eleições.
O momento é bastante delicado, há nervosismo nos mercados internacionais e a campanha eleitoral está em curso. É necessária toda a cautela quando uma autoridade federal fala de política econômica.

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