São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998
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PT e PSDB buscam cérebros na Unicamp

GUSTAVO PORTO
DA FOLHA CAMPINAS

A disputa entre os candidatos à Presidência da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou o campo político e chegou ao universitário. Um dos pólos da discussão é a Faculdade de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que vai se dividir durante a campanha eleitoral deste ano.
A "economia realista", proposta pelo coordenador do programa econômico da campanha de FHC à reeleição, Carlos Américo Pacheco, entra em confronto com a "economia social-democrata", defendida pelo grupo petista da universidade.
O curso de economia da Unicamp é um dos mais conceituados do país, ao lado do da USP (Universidade de São Paulo), da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio e da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O grupo petista é formado por quatro economistas que dão aulas na universidade: Wilson Cano, Aloizio Mercadante, José Graziano da Silva e Jorge Mattoso. Eles integram a equipe que vai elaborar o programa econômico do plano de governo de Lula.
Mattoso participa ainda da coordenação geral do plano, ao lado de Marco Aurélio Garcia, do Ifich (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) da Unicamp.
Espaço
O grupo petista ganhou maior destaque na universidade porque tucanos que davam aula na Unicamp se afastaram para assumir cargos de 1º escalão no governo FHC, como os ministros José Serra (Saúde), Paulo Renato Souza (Educação) e Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações).
Pacheco, professor de desenvolvimento econômico, teoria econômica e macroeconomia em graduação e pós-graduação na universidade, assume na próxima quarta-feira a elaboração do programa econômico de FHC.
Avesso a comentários sobre suas propostas, o economista disse que vai defender o programa que já vem sendo aplicado no atual mandato de Fernando Henrique Cardoso: abertura do país ao capital externo, retirada do Estado das atividades públicas e as privatizações.
Pacheco afirmou que a divisão na universidade não é técnica. "É uma divisão de natureza política, uma avaliação que cada um de nós faz da política do país. É uma ilusão imaginar que a opção sobre o que se tem de melhor seja só uma orientação da técnica", disse ele.
Segundo ele, não existe um conflito entre os dois grupos. "Não é um concurso para PhD, é uma eleição para presidente. Não se trata de defesa de tese, trata-se de uma discussão de qual é a alternativa política que o país escolherá para a Presidência da República, eleitoralmente e pelo povo", disse Pacheco.
Social-democrata
Garcia, 57, coordenador-geral do plano de governo do programa de governo petista, afirmou que seu grupo defende a "política econômica social-democrata", baseada na intervenção do Estado na economia e no incentivo ao mercado de trabalho.
"Nunca acreditei na social-democracia do PSDB. Atualmente, é o modelo econômico atrelado à economia internacional. Temos a proposta de desestruturar esse modelo por meio de reformas sociais", disse Garcia, que já havia trabalhado nas campanhas de Lula em 89 e 94.

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