São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998
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Chile adota modelo cambial similar ao brasileiro

GILSON SCHWARTZ

da Equipe de Articulistas
A mudança no regime cambial anunciada há dois dias pelo governo chileno aproxima o país do modelo brasileiro. A interpretação é do analista Michael Hood, que acompanha a economia chilena para o banco J. P. Morgan.
Segundo Hood, o modelo chileno sempre foi citado como referência por outros países. Até o presidente do Banco Central, Gustavo Franco, já teceu elogios ao sistema de "bandas largas" do Chile e, nos últimos dias, admitiu que a política cambial brasileira deveria transitar para um sistema semelhante (depois fez a ressalva de que apenas no médio e longo prazo).
Hood alerta para a curiosa ironia de que, antes disso, os chilenos foram obrigados a adotar o sistema brasileiro, de bandas cambiais mais estreitas, juros mais altos e rendição à captação de recursos financeiros externos de curto prazo.
Para o analista do J. P. Morgan, a mudança chilena também se deve à dificuldade que o governo de Eduardo Frei encontra para fazer um ajuste fiscal mais duro.
Sem ajuste fiscal, as mudanças no mecanismo da banda servem para tentar convencer o mercado de que o governo tem a situação sob controle.
A origem da crise chilena é a forte dependência do país não apenas em relação aos mercados asiáticos, mas em relação a uma mercadoria específica: o cobre. Em maio, o próprio Hood previa uma redução da taxa de juros no Chile, pois a atividade econômica do país já dava sinais de desaquecimento.
Nas últimas semanas, entretanto, com o agravamento da crise asiática, os preços do cobre caíram mais e os mercados começaram a testar o peso chileno. Segundo Hood, eram tentativas de verificar até que ponto o governo estaria disposto a perder reservas. Ou seja, um ataque especulativo clássico. O J.P. Morgan está prevendo um crescimento de 3,5% para o Chile no ano que vem. Seria ótimo para o Brasil, diz, mas no Chile é uma catástrofe, um desastre, diante das taxas observadas nos últimos anos.
No curto prazo, entretanto, Hood não espera uma crise cambial mais forte no Chile. Ele afirma que as autoridades parecem assustadas com a extensão do estrago que a crise asiática pode provocar.
A redução na flexibilidade do regime cambial, entretanto, apresenta riscos. O Chile, ex-modelo, está indo na contramão dos outros países que, diante da crise, entendem que a prioridade é dar maior flexibilidade às políticas cambiais, ampliando em vez de estreitar a banda cambial.
Pacote
Na última quinta-feira, o governo chileno anunciou um novo pacote de medidas.
Além da elevação do teto da banda de flutuação do peso em relação ao dólar, o Orçamento deverá ser reduzido em US$ 200 milhões no segundo semestre. O BC reduziu de 30% para 10% o depósito para o ingresso de recursos do exterior.
No início do ano, o governo aplicou dois sucessivos programas de redução do Orçamento que resultaram em um corte de mais de US$ 500 milhões.

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