São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998
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No fim do arco-íris havia um operário

CLÓVIS ROSSI

Havia um arco-íris enfeitando o céu sobre o Parc des Princes. Havia uma porção de príncipes do futebol jogando no campo. E havia também um operário da bola, chamado César Sampaio.
Foi esse moço simples, humilde, distante dos holofotes que, por vezes, ofuscam a mente de seus companheiros mais badalados, quem colocou o pote de ouro ao alcance da seleção brasileira.
O ex-jogador do Palmeiras já fez três gols nesta Copa, tantos quanto Ronaldinho, estrela de brilho incomparavelmente superior. Todos eles, em tese, suficientes para desamarrar um time que, pelo menos até terminar o primeiro tempo de ontem, continuava devendo.
Ontem, César Sampaio fez dois gols em apenas 27 minutos. E contra uma seleção que é claramente inferior à do Brasil, mais ainda quando se sabe que não pôde contar com dois de seus armadores titulares (Parraguez e Villaroel, ambos suspensos).
Sempre no papel, era tudo o que a torcida brasileira poderia pedir aos deuses do gramado para que o time, enfim, encontrasse o pote de ouro no fim do arco-íris.
Nem assim conseguiu, pelo menos no primeiro tempo.
Fez mais um, é verdade, em outro lance casual, como, de resto, haviam sido os dois que resultaram nos gols de César Sampaio.
Mas jogar futebol de verdade que é bom, nada. Tanto que, outra vez, mesmo com 2 a 0 a favor, a torcida já gritava "Denílson/Denílson", sinal evidente de que não estava contente com o que via, placar à parte.
Até o primeiro gol brasileiro, aliás, parecia incrível, mas o Chile não demonstrava a reverência que é habitual quando um adversário, qualquer que seja, cruza com aquelas camisas amarelas. Seus jogadores devem ter visto as partidas anteriores do Brasil e perderam o respeito.
Mas, com a casa arrumada pelo dois gols do operário César Sampaio, o segundo tempo permitiu, por fim, que a seleção fosse menos burocrática, menos chata.
Deu para matar saudades do Roberto Carlos do Real Madrid, deu até para ver um daqueles fenomenais "sprints" que Rivaldo sabe fazer (foi um só, é verdade, mas algo é algo), deu para ver dois gols de Ronaldinho, além de dois chutes na trave (no primeiro deles, aliás, passe de César Sampaio).
Deu igualmente para comprovar que Leonardo, titular tardio do time, não pode ficar de fora.
Só não deu para ver Denílson (nem Bebeto, como, aliás, vem ocorrendo desde o início da Copa). Tampouco deu para que a defesa obtivesse certificado de qualidade. No gol chileno, todos os zagueiros ficaram simplesmente olhando enquanto Taffarel duelava (e perdia) com Zamorano, para a sobra aproveitada por Salas.
Tudo somado, a partida de ontem só reforçou o favoritismo do Brasil, o que dá uma clara idéia da superioridade teórica de seus jogadores. Basta que joguem mais ou menos bem, como o fizeram em parte do primeiro tempo do jogo contra Marrocos ou no segundo tempo de ontem, para que o título fique mais perto.
Ainda mais se as estrelas olharem para o exemplo do operário César Sampaio, que não se mete em intrigas internas, não mete o dedo em riste no rosto de qualquer companheiro, não reclama quando não lhe passam a bola.
Faz o que sabe fazer, da melhor maneira. O que acaba sendo um bom caminho para fazer até aquilo que, em tese, não sabe fazer, ou seja, marcar gols, os gols que aplainam o caminho para o brilho das estrelas na ponta do arco-íris.

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