São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998
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A vagina e a arte

JORGE COLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os contemporâneos de Rodin insistiram em seu temperamento libidinoso. Ele deixou pequenas esculturas em que o sexo feminino se escancara e traçou, sobre o papel, fêmeas que seu "olho grande, proeminente e luxurioso", devorava: os adjetivos são de Paul Claudel, admirável poeta, irmão da infeliz Camille. O vigor e a qualidade desses desenhos surgem de um traço a serviço de uma obsessão, cujo impulso inicial parece ser o mesmo dos grafites desajeitados nos banheiros públicos, que inscrevem formas femininas com vaginas desmedidas. Nas obras gráficas selecio nadas para a exposição "Aquarelas e Desenhos Eróticos de Rodin", no Ibirapuera, em SP, muitos modelos se contorcem e se abrem, de frente, de costas, para melhor exporem suas intimidades, sublinhadas com força pelo lápis nervoso ou pela mancha brutal da aquarela em tom sujo. Nos tempos de Rodin, o chamado "nu artístico" via-se atacado em seus álibis culturais por artistas que restauravam a sexualidade antes disfarçada. Rops e Egon Schiele são exemplos evidentes. Eles não possuem, entretanto, o tropismo violento, a brutalidade instintiva de Rodin, que poderia evocar Dubuffet e o "art brut", não fosse a beleza sen sual das formas. Desejo com pulsivo, o mais imediato, que busca saciar-se por meio do gesto artístico.

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