São Paulo, terça-feira, 30 de junho de 1998
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País despreza suas plantas medicinais

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

A citronela e o "lemon grass" poderiam ser importantes aliados do governo no combate à dengue, assim como a espinheira-santa no tratamento de úlceras.
A pouca utilização dessas plantas é apenas um exemplo de como o país menospreza o uso das ervas na defesa da saúde da população.
Pesquisas do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) demonstram que a eficiência do óleo da citronela e do "lemon grass" como larvicidas no combate ao mosquito da dengue é maior que a dos inseticidas químicos.
"Isso sem contar que os inseticidas sintéticos acabam dando resistência ao mosquito", diz Paulo Guilherme Ferreira Ribeiro, pesquisador de plantas medicinais do Iapar.
Segundo Ribeiro, a citronela e o "lemon grass" são plantas rústicas, de fácil adaptação e economicamente viáveis.
A citronela e o "lemon grass" não podem ser confundidos com a erva-cidreira, planta comum em todo o país e usada como chá.
O pesquisador lamenta que não existam programas específicos, impulsionados pelo governo, para incentivar a produção comercial de plantas medicinais no país.
"Com crédito de programas como o Pronaf (programa de incentivo à agricultura familiar), seria possível a produção de óleos em pequenas propriedades."
Segundo ele, em um hectare podem-se produzir de 12 t a 15 t de massa verde de citronela ou de "lemon grass", com uma produção de até 200 kg de óleo essencial. Além de larvicida, o óleo tem utilidade na indústria de cosméticos.
Na fitoterapia (tratamento de doenças com o uso de plantas), as perspectivas são ainda melhores. Exemplos bem-sucedidos são os da Klabin (leia texto abaixo) e os do próprio Iapar, que selecionou espécies para a farmácia básica do Estado.
Por meio da Cemepar (Central de Medicamentos do Paraná), são distribuídos em postos de saúde do Estado medicamentos fitoterápicos desenvolvidos a partir da macela (contra cólicas), da folha de maracujá (calmante) e da calêndula (cicatrizante).
É na produção de fitoterápicos que existem os maiores entraves para o desenvolvimento de pesquisas e produção comercial. Um exemplo clássico, entre os pesquisadores, é o da espinheira-santa. Planta brasileira, seus princípios ativos foram patenteados pelos japoneses (leia texto abaixo).
"A flora brasileira é uma das mais diversificadas do mundo. Precisamos conservá-la e também saber explorar seu potencial", diz Walter Radamés Accorsi, professor de botânica da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo.
Leo Schoof, produtor de plantas medicinais em Rolândia (PR), reclama da legislação. "Há muitas exigências e controles sobre a produção de ervas medicinais."
Ele critica o fato de a legislação tratar o chá de hortelã com o mesmo rigor com que trata a produção de uma pílula anticoncepcional.

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