São Paulo, terça-feira, 30 de junho de 1998
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Saúde fecha hospital onde morreram 5 bebês

CRISPIM ALVES
PRISCILA LAMBERT

CRISPIM ALVES; PRISCILA LAMBERT
DA REPORTAGEM LOCAL

Recém-nascidos estavam internados em estabelecimento de Guarulhos; médico não descarta infecção hospitalar

O ministro da Saúde, José Serra, determinou ontem à noite o fechamento de todas as unidades do Hospital Maternidade Municipal de Guarulhos (Grande SP). No último final de semana, cinco bebês morreram na UTI neonatal do estabelecimento.
Antes da decisão de Serra, a Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo já havia decidido fechar a UTI neonatal. Segundo a assessoria de Serra, além do fechamento do estabelecimento, o ministro acionou o Ministério Público para investigar a morte dos bebês. Até as 23h de ontem, a assessoria não sabia informar se a interdição ocorreria hoje ou em outro dia. Nenhum representante do hospital foi encontrado ontem à noite.
Médicos do hospital vêm denunciando desde maio ao CRM (Conselho Regional de Medicina) a falta de recursos humanos e de infra-estrutura para o atendimento de pacientes. Apenas um bebê permanece na UTI.
Segundo o diretor clínico do hospital, Cid Vieira Franco de Godoy Filho, um dos recém-nascidos mortos adquiriu meningite dentro da UTI. Outros três, que nasceram pesando 550 g, 730 g e 830 g, teriam morrido por "prematuridade extrema". O quarto bebê, nascido em parto domiciliar no sexto mês de gestação, foi internado dia 18 pesando 1.250 g e morreu com infecção generalizada.
"Mas não podemos afirmar nem negar que os bebês tenham sido vítimas de infecção hospitalar. Se estivessem em outro hospital, com melhores condições, talvez tivessem sobrevivido", diz Godoy Filho.
Segundo Godoy Filho, há um déficit de 50% no quadro de enfermeiros e de 20% no de médicos. "Faltam materiais básicos, os filtros de ar dos berços da UTI estão vencidos e exames que deveriam demorar 40 minutos se estendem por seis horas. Se não houver uma solução urgente, eu me nego a continuar trabalhando aqui."
Segundo Elizabeth Gattermayer, diretora administrativa do hospital, o alto índice de mortalidade se explica pela demanda de alto risco que o hospital recebe. "Além disso, o nível social dos nossos pacientes é muito baixo e as condições das crianças são ruins."
A Secretaria Municipal da Saúde de Guarulhos informou, em nota oficial, que três dos bebês morreram por causa de seu baixo peso -dois deles gêmeos. A quarta criança teria morrido de infecção causada por um prolapso de cordão umbilical (problema que dificulta a oxigenação do bebê) e não por meningite, como disse o diretor clínico. O quinto bebê teria morrido com infecção após parto domiciliar. A secretaria nega ter havido falta de cuidados médicos ou de medicamentos.

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