São Paulo, sábado, 11 de julho de 1998
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Aposentado morto tomou remédio falso

DA SUCURSAL DO RIO; DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O lote 351 do medicamento Androcur, falsificado, pode ter feito mais uma vítima: o aposentado Enéas Faria Souto, 84, que morreu de câncer na próstata em janeiro após tomar por seis meses cápsulas do lote.
O filho do aposentado, o compositor e arquiteto Edmundo Souto, disse que, no início do tratamento com o Androcur, em setembro de 96, seu pai reagiu bem e apresentou melhoras.
Em junho de 97, Souto passou a comprar o medicamento para o pai na Drogaria Pop de Copacabana (zona sul).
"A partir daí, a saúde dele piorou. O médico tinha dito que ele nunca morreria de câncer na próstata e se surpreendeu com a piora", disse.
Cerca de um mês depois da morte do pai, Souto assistiu a uma reportagem de TV relatando o caso do Androcur e desconfiou. Examinou a última caixa que sobrara e conferiu o lote: era o 351.
Como Souto costumava comprar até 20 caixas de uma vez, ele não tem dúvidas de que seu pai morreu por causa do remédio. Souto comprava os remédios para o pai sempre no cartão de crédito e tem todas as faturas.
A Folha tentou ouvir o dono das três farmácias Pop, Rafael Gomes, mas não o encontrou.
Maurício Lima, funcionário da Drogaria Pop de Copacabana, disse que a farmácia nunca vendeu medicamento falso e não quis informar de que distribuidora foi adquirido o lote 351 do Androcur.
Laudo
O diretor geral do Hospital de Clínicas de Curitiba, Mitsuro Miyaki, disse ontem, por meio de sua assessoria, que irá esperar o resultado do laudo do IML (Instituto Médico Legal) para se manifestar sobre a morte de Theodoro de Lima, 77, que havia tomado Androcur falso distribuído pelo hospital.
Lima morreu na manhã de anteontem, vítima de câncer de próstata. Ele recebia havia um ano tratamento e medicamentos gratuitos do HC.
Santa Catarina
Em Santa Catarina, foram apreendidos quatro frascos do remédio Androcur falsificado.
Dois dos frascos foram encontrados em Joinville (norte do Estado) e dois, em Laguna (litoral sul).
Foram abertos inquéritos policiais, na Polícia Civil, e processos administrativos, na Vigilância Sanitária.
Segundo o gerente de atividades de saúde da Vigilância Sanitária, Áureo dos Santos, os donos da farmácia de Laguna (cujos nomes não foram divulgados) disseram que o remédio foi comprado da Distribuidora Ação, de Belo Horizonte (MG), mas não apresentaram nota fiscal.

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