São Paulo, sábado, 11 de julho de 1998
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Fraude barra 2.000 na final

RODRIGO AMARAL; FÁBIO VICTOR
DE PARIS

Maioria dos brasileiros que compraram ingressos às operadoras envolvidas deve ficar de fora na decisão de amanhã

FÁBIO VICTOR
É praticamente certo que cerca de 2.000 torcedores brasileiros vão ficar de fora da final da Copa-98 apesar de terem pago antecipadamente pelos ingressos.
Se esse fato se confirmar, como tudo indicava até a noite de ontem, será um triste mas esperado fechamento do capítulo brasileiro na novela dos ingressos da Copa.
Os protagonistas são torcedores que pagaram até US$ 15 mil por pacotes que incluíam passagem de avião, hospedagem e os ingressos para os jogos da seleção brasileira, mas não viram a cor dos últimos.
O problema vem se repetindo desde o jogo do Brasil contra o Chile, no dia 27 de junho. Nos jogos anteriores, porém, fora ligeiramente amenizado pela compra de ingressos de cambistas.
Na decisão, nem esse paliativo se mostra praticável. Nos últimos dias, o preço dos ingressos mais baratos ultrapassou os US$ 1.000. Um cambista contatado pela Folha, por exemplo, só aceitava negociar a partir de US$ 2.000.
A origem dos problemas, segundo Rogério Vianna, diretor da operadora carioca Imperial, uma das envolvidas, está na SBTR, agência credenciada pela CBF.
Com as paulistas Oremar e Cetemar, a Imperial trouxe 1.200 torcedores a Paris. Segundo ele, as três parceiras acertaram com a SBTR a compra de ingressos para os jogos da seleção. Essas entradas sairiam da cota de 8% da capacidade de cada estádio a que, de acordo com Vianna, a CBF teria direito em cada jogo do Brasil.
Tendo por base esse cálculo, a CBF deveria receber cerca de 6.400 bilhetes para a final -o Stade de France abriga 80.000 torcedores.
Mas o diretor jurídico da CBF, Carlos Eugênio Lopes, disse ontem que a cota da entidade é bem menor -2.000 ingressos.
"Não vamos ter os ingressos para a final, a não ser que aconteça algum milagre", admite Tasso Gadzanis, diretor da Oremar.
Antes da Copa, as agências haviam pago à SBTR, com um ágio de 30%, pelos ingressos que necessitavam para a primeira fase.
Mesmo então a SBTR só entregou 2.750 ingressos, quando haviam recebido por 3.600. A partir do jogo contra o Chile, a SBTR informou às empresas que o total de ingressos recebidos era insuficiente para atender às suas demandas. O problema afetou ainda a Exceller, que levou 700 pessoas a Paris.
O caso vai para os tribunais. Oremar, Cetemar e Imperial já entraram com uma ação contra a SBTR e a CBF na Justiça do Rio.
Além disso, as empresas envolvidas foram incluídas em um inquérito da Justiça francesa sobre possível desvio de ingressos.
Na quinta-feira, Wagner Abrahão, diretor da SBTR que se encontra em Paris, foi detido pela polícia judiciária parisiense para prestar depoimentos sobre o caso. Ele foi liberado no mesmo dia.
Em 27 de junho, os diretores da Oremar, da Imperial e da Cetemar haviam sido detidos, mas também foram soltos no mesmo dia e vão responder processo em liberdade.
A reportagem da Folha tentou, por dois dias, um contato com Abrahão, mas não o localizou.

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