São Paulo, sábado, 11 de julho de 1998
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Brasil e França é a final dos sonhos

PELÉ

Dois meses atrás, eu disse que a final dos sonhos seria entre o Brasil, defensor do título, contra a França, país anfitrião. Bem, o sonho se transformou em realidade. Amanhã, no Stade de France, pela primeira vez na história um país anfitrião enfrenta a seleção defensora do título.
Deve ser um jogo emocionante e, espero, aberto. Isso vai ser ótimo e fechará com chave de ouro a última Copa do século.
O Brasil chegou à final depois de vencer a Holanda nos pênaltis. Os holandeses fizeram um jogo de paciência e jogaram muito bem. Mesmo quando Ronaldinho marcou, logo no início do segundo tempo, eles não entraram em pânico. Os holandeses continuaram atacando e empataram com Kluivert, faltando três minutos para terminar a partida.
Mas o Brasil não se acomodou e na prorrogação atacou mais e jogou muito melhor do que a Holanda. Isso mostrou a experiência de uma seleção que participou de todas as Copas.
A Croácia foi a grande surpresa para todo o mundo, chegando à semifinal em sua primeira Copa. Isso se deveu, em parte, a vários de seus jogadores atuarem na Europa.
Agora, temos uma seleção querendo conquistar o pentacampeonato e outra tentando seu primeiro título. Acho que a pressão maior vai pesar sobre a França, que joga em casa. O Brasil sabe como jogar nesta final. A França ainda está se entrosando.
A França vai sentir falta do zagueiro Blanc. Ele deve ser substituído por Leboeuf, que não tem tanta experiência e jogou aqui e ali nesta Copa.
Blanc e Desailly jogam bem juntos, e a defesa pode perder seu conjunto sem o primeiro.
O jogador para quem eles devem abrir o olho é, obviamente, Ronaldinho. Mas o Brasil é muito mais do que Ronaldinho. Os ataques da seleção podem partir de qualquer lugar. O Brasil vai jogar no ataque e vencer o jogo, como sempre faz.
O jogador-chave da França é Zinedine Zidane, que vai coordenar o ataque. Mas a França não tem goleadores como a Holanda ou o próprio Brasil. Isso pode ser um problema para o Brasil. Porque a França vai jogar de forma bem mais defensiva do que a Holanda, que fez muita marcação homem a homem contra o Brasil. Não creio que vamos ver a França fazer isso na final.
Este será um jogo perfeito para os torcedores. O Brasil é um time que todo mundo quer ver na final. Já os franceses estão extasiados por terem sua seleção lá também, mas eles também adoram o Brasil. Eles gostam da forma como jogamos.
E esta seleção joga diferente daquela que ganhou o Mundial dos EUA. O time de 1994 era mais organizado porque o Carlos Alberto Parreira teve mais tempo para trabalhar com os jogadores.
Mario Zagallo juntou a equipe um mês antes do início da Copa. Individualmente, esse time tem melhores jogadores, mas levou algum tempo para eles se entrosarem. Acho que isso só aconteceu de fato contra a Holanda.
Quarenta anos atrás, o Brasil se tornou o único país a vencer uma Copa fora de seu continente. Participei daquela campanha e foi então que um jornalista francês me deu a alcunha de "Rei Pelé".
Depois, fui eleito na França o atleta do século. Várias coisas muito boas já aconteceram comigo na França. Amanhã, acho que mais uma vai acontecer. Acredito que o Brasil irá vencer sua quinta Copa do Mundo.

Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, 57, ex-jogador de futebol, ex-ministro extraordinário dos Esportes, é comentarista da Rede Globo e porta-voz oficial da Mastercard

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