São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 1998
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Candidatos declaram de coleção a túmulos

RICARDO GALHARDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois cavalos, uma coleção de selos, 99% das ações de uma empresa cujo capital é de R$ 0,01, um empréstimo de R$ 30 mil para o filho, dois Fusca e duas sepulturas.
Os itens listados acima podem, à primeira vista, parecer não ter nenhuma relação entre si, mas todos fazem parte das declarações de bens dos dez candidatos ao governo de São Paulo apresentadas ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral).
O candidato do PPB, Paulo Maluf, foi minucioso ao ponto de incluir na declaração dois cavalos e um empréstimo com "valor histórico" de R$ 0,68 feito a Walter Erwin Stumpf.
Infelizmente, a mesma minúcia não se repete no restante da declaração. Maluf foi o único que não declarou o valor de bens como imóveis, ações e automóveis.
Já Orestes Quércia (PMDB), o mais rico entre os candidatos que declararam o valor de todos os bens, com patrimônio avaliado em R$ 7,41 milhões, possui apenas um automóvel, Fusca, ano 80, avaliado em R$ 2,77 mil. Segundo sua assessoria de imprensa, os carros usados por Quércia e por sua família são todos alugados.
Outro adepto do Fusca é Francisco Rossi (PDT). Ele guarda na garagem um modelo do carro ano 1966, vermelho, por razões sentimentais.
O veículo é igual ao que Rossi usou nos comícios relâmpagos que fazia nos bairros do Osasco na primeira vez que foi candidato a prefeito da cidade, em 1972.
"Vendi o original e quando fui tentar comprá-lo de volta fiquei sabendo que havia sido destruído em um acidente. Um dia entrei em uma agência de veículos e vi um igualzinho, todo original. Não resisti e comprei", disse Rossi, que é um "fusqueiro" de carteirinha, filiado ao Clube do Fusca.
Marta Suplicy, do PT, incluiu, entre apartamentos, casa em Ubatuba (litoral norte de São Paulo) e linhas telefônicas, os 99% de ações que possui da empresa Marta Suplicy Comunicação e Psicologia S/C Ltda. O valor total das ações soma R$ 0,01.
O candidato à reeleição pelo PSDB, Mário Covas, mostrou que adota em casa os mesmos e austeros critérios que marcaram sua passagem pelo Palácio dos Bandeirantes.
Covas declarou no item "a receber" um empréstimo pessoal de R$ 30 mil feito ao seu filho, Mário Covas Neto. O documento não informa o valor dos juros cobrados pelo candidato tucano.
A declaração de bens de Covas também sugere novas pistas sobre os motivos que o levaram a enfrentar o governo federal para tentar manter o Banespa nas mãos do Estado. Ele possui 10 mil ações do banco, avaliadas em R$ 60.
No entanto um dos pontos mais pitorescos das declarações de bens apresentadas pelos candidatos a governador do Estado de São Paulo -tanto pelo valor, quanto pela espécie- foi cometido por Constantino Cury Neto (Prona). Ele declarou possuir uma coleção de selos, moedas e cartões telefônicos avaliada em R$ 300 mil.

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