São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 1998
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Novos números da maldita assustam

JAIRO BOUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Metade das novas infecções por Aids hoje nos EUA atinge pessoas com menos de 25 anos. Essa é uma realidade que está sendo constatada em praticamente todo o mundo. Uma população cada vez mais jovem está sendo contaminada com o vírus HIV.
No Brasil, desde o início da epidemia (em 1980), 13% dos casos foram notificados em pessoas com menos de 25. Outros 21% estão na faixa dos 25 aos 29 anos, o que indica que eles se contaminaram, muito possivelmente, antes dos 25 anos de idade.
Todos esses números foram discutidos durante a Conferência Mundial da Aids -evento que reuniu mais de 13 mil especialistas de mais de 170 países em Genebra (Suíça) no início deste mês.
Os jovens foram um dos focos da conferência. Peter Piot, diretor executivo da Unaids (Programa das Nações Unidas para Aids), disse na abertura do encontro que um programa efetivo de prevenção só pode ser construído a partir da experiência e do trabalho com os adolescentes.
Não é à toa que a prevenção voltou a ser o ponto alto das discussões sobre a Aids. Países que tinham a epidemia fora de controle conseguiram reverter sua situação após investimentos em programas de prevenção.
Para o jovem, prevenção significa saber se proteger. Amor e sexo fazem par perfeito com cuidado e responsabilidade. A camisinha tem de estar sempre lá, na hora e no lugar certo.
A bola alta da prevenção vem justamente no momento em que as notícias sobre o tratamento da Aids não são as mais animadoras.
O coquetel de drogas que vem sendo utilizado há quase três anos para controlar a doença não parece ser capaz de acabar de vez com o vírus HIV no organismo.
Esse tipo de tratamento reduziu muito as mortes e as doenças provocadas pelas Aids. Mas ainda é muito caro, exige consumo diário de muitos comprimidos, causa sintomas indesejáveis e pode, com o tempo, trazer efeitos tóxicos para o organismo.
Uma vacina eficaz para prevenir a Aids ainda pode demorar dez anos para ficar pronta. A vacina que começou a ser testada em junho nos EUA e na Tailândia não deve garantir proteção contra a Aids. Deve servir mais como um teste. Uma vacina eficaz -feita com o próprio vírus HIV atenuado (enfraquecido)-, com as técnicas disponíveis hoje, ainda traz o risco da doença.
E há mais: em muitos países do mundo, a epidemia está completamente fora de controle. Os especialistas calculam que a doença caminha com a velocidade assustadora de 16 mil novos casos por dia. São mais de 1.600 crianças nascendo com Aids todos os dias. Sendo que 90% delas estão em países da África e da Ásia e não têm acesso a qualquer forma de tratamento.
No Brasil, apesar de a situação ter-se estabilizado nos últimos três anos (com cerca de 17 mil casos novos por ano), graças ao esforço do Programa Nacional de DST/Aids (considerado um dos melhores do mundo), de muitas ONGs e de alguns governos municipais e estaduais, a evolução da epidemia aponta algumas tendências preocupantes.
Ela aumenta entre mulheres, jovens, nas camadas mais pobres da população (com nível de escolaridade mais baixo) e em cidades menores do interior. O grande desafio agora é fazer com que a população brasileira entenda que a Aids é uma preocupação de todos. E que cada um de nós pode contribuir para o seu controle. (JAIRO BOUER)

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