São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 1998
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Pioneiro do rap, Sampa Crew chega ao oitavo disco por conta própria

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

O rap está dando lição aos outros gêneros no Brasil. É nessa falange musical que os artistas estão conseguindo meios de manter o controle total de seu trabalho, longe das imposições de gravadoras.
Depois de o Racionais MC's fazer um CD independente vender 500 mil cópias com divulgação zero, o Sampa Crew, pioneiro do movimento no Brasil, chega ao oitavo disco, agora por seu próprio selo.
O grupo paulistano passou por selos pequenos, experimentou o trabalho com uma major (Sony) e agora lança "Aroma", do selo Big Posse Records, com distribuição da Eldorado.
"Considero os trabalhos da primeira fase fracos. Faltava experiência", analisa J.C. Sampa, rapper que fundou, lidera e personifica o grupo. "Depois, com o poder de mídia da Sony, passamos a ser conhecidos no país inteiro."
Os três lançamentos pela Sony venderam, em média, 100 mil cópias. "Ótimo para nós, mas hoje a gravadora está num estágio em que trabalha com quem vende 500 mil", diz Sampa, que fundou o Big Posse para lançar discos sem preocupação com vendagem.
"Se vender muito, ótimo, mas o que a gente quer é divulgar bons trabalhos, não só de rap. Tenho planos para resgatar MPB e pop nacional dos anos 70 e 80, que a garotada merece conhecer."
Além de "Aroma", o selo prepara o lançamento do álbum do Vítima Fatal, grupo veterano do rap que iniciou na mesma coletânea que lançou o Sampa, há dez anos.
"Se para os Racionais é importante não aparecer, para nós é. Nós concorremos com o sertanejo, com o pagode. Vendemos disco para fãs do Zezé di Camargo,do Roupa Nova" explica Sampa.
Segundo ele, o grupo é assimilado por gente que gosta de outros estilos. "Outro dia uma menina com camiseta do Iron MAiden, toda maluca, veio pedir autógrafo para a gente."
"Aroma" deve ampliar ainda mais o público dos rapazes. Há espaço para soul romântico, charme, rap mais "batidão" e até experimentalismo, como a mistura de scratch com sons de berimbau em "Beat Abertura 3".
O maior sucesso da história do grupo, o clássico romântico "Eterno Amor" (aquela com o refrão "você nasceu pra mim, eu nasci pra você...") é tocado praticamente todos os dias nos horários de flashback das rádios FMs.
O vocalista Ricardo Anthony, amigo do Sampa que gravou a voz mais aguda no antigo sucesso, foi convidado para mais uma participação, desta vez na faixa "Me Dê uma Chance (A Carta)". O grupo gostou tanto que agora Anthony passou a fazer parte do Sampa.
Há mais destaque no álbum, como "Gritos do Silêncio", que discute o aborto, e "Movimento Infinito", que reverencia a história do hip hop em São Paulo.
Sampa Crew é ritmo e poesia (rhythm and poetry, "rap"). Com romantismo e independência.

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