São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 1998
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Imagem do boi está mais futurista

DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

"A imagem do boi está se enfeitando", afirma Humberto Espíndola sobre a multiplicação dos rodeios no interior do país nos últimos anos.
Ele explica que a imagem anterior do animal, muito ligada a madeira, terra e curral, agora está sendo associada a elementos futuristas.
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Agência Folha - Com o aumento de rodeios por todo o país, o que surgiu de novo na bovinocultura?
Humberto Espíndola - Surgiram símbolos novos. Montadores com capacete, por exemplo. A arquitetura dos currais também é futurista, toda de aço tubular. A assistência tem um vestuário especial. É mais o lazer da coisa que estou observando. Essa é a cara nova da bovinocultura. A imagem do gado antes era mais seca, mais madeira, curral, agora ela está se enfeitando, com mais cores.
Agência Folha - Essa cara nova esconde o quê?
Espíndola - Ela revela uma certa valorização do boi. A suavização dos símbolos bovinos, considerados até então como muito rudes. As pessoas não se permitiam colocar um quadro com boi na parede. Ninguém no entanto tinha preconceito contra o cavalo, que é bonito, plástico. Agora cresceu muito a propagação da imagem do boi, nos rodeios, nos leilões, embora essa imagem seja antiquíssima. Essa nossa sociedade, cujas raízes culturais e econômicas estão montadas no boi, de certa forma tinha também vergonha do boi, o considerava de segunda classe como imagem.
Agência Folha - Um aspecto de sua obra é que os bois estão sempre vivos. Por quê?
Espíndola - Minha obra já fez vários tipos de protesto, ao longo de 30 anos que trabalho com o tema. Eu já mostrei esse boi humanizado, assumindo o papel de ditador, burocrata, filósofo, o boi por si mesmo, nelore, ruminante, o boi de laboratório. Em relação aos matadouros, não posso ser contra a indústria da carne, que é poderosíssima no país. Toda a formação econômica do Brasil Central deve muito à criação bovina. Depois da corrida do ouro, se não houvesse uma pecuária de corte para assentar o povo no interior do país, talvez esse interior nem existisse hoje como conquista do país. O boi é um animal predestinado, foi escolhido para ser comida.

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