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Cinemateca recupera força do gigante japonês Tomu Uchida

Mostra reúne oito filmes em que o cineasta subverte gêneros

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Uma cinematografia de peso como a japonesa não se fez apenas de grandes nomes.

Entre as obras monumentais de Kurosawa, Ozu, Mizoguchi e Naruse, outros criadores, hoje menos visíveis e nem por isso pouco fundamentais, fortaleceram sua particularidade cultural.

O ciclo "O Cinema de Tomu Uchida", em exibição na Sala Cinemateca até o dia 4 de dezembro, reprojeta a força de um desses gigantes que acabaram pouco conhecidos.

A mostra reúne oito títulos dirigidos por Uchida entre 1955 e 1968, distribuídos numa variedade de gêneros, como o filme de samurai, o policial e adaptações de clássicos do teatro kabuki.

Neles, o suporte do gênero quase sempre é usado como álibi para subvertê-lo na representação de desequilíbrios sociais e relações de servidão que culminam em rupturas trágicas.

Numa de suas fórmulas definitivas, o crítico Jairo Ferreira (1945-2003) incluiu Uchida entre os "cineastas que não apenas têm o cinema no sangue, mas o têm ao mesmo tempo na cabeça", em que "a ideia trabalhada na mente não verbal explode no ato sanguinário perfeito".

São explosões que revertem lugares tradicionais de superioridade e inferioridade, como no assombroso duelo final de "A Lança Ensanguentada", um "road movie samurai" em que a estrada serve como eixo onde a variedade de tipos e situações expõe um painel simbólico do que mudou e do que permaneceu arraigado.

O espetacular "Tragédia em Yoshiwara" anuncia desde o próprio título a progressiva ruína de um empresário que carrega na face uma origem pouco nobre e que, mais uma vez, explode como auto

destruição.

Já o modernismo do relato de "Condenado pela Consciência" demonstra como Uchida, morto em 1970, aos 72 anos, se manteve infiel ao peso das tradições e se superou em meio à leva de subversões trazida pelos cineastas da "nouvelle vague" japonesa.

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