São Paulo, Sábado, 01 de Janeiro de 2000


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CRÍTICA
"Castelo Rá-Tim-Bum", o filme, supera série de TV

da Reportagem Local


"Castelo Rá-Tim-Bum", o filme, supera a série da TV Cultura que lhe deu origem. E isso basta para que pais que desejam levar seus filhos ao cinema nestas férias tenham a obrigação de o preferir a todos os seus concorrentes.
"Castelo Rá-Tim-Bum", a série, tinha, entre seus projetos educativos, o objetivo de transmitir informações úteis no dia-a-dia da criança -uma necessidade da TV educativa que era, também, um fator limitante, do ponto de vista narrativo.
O filme não tem essa preocupação. O espectador, portanto, não vai ver cenas constrangedoras de tios ensinando a escovar os dentes e a pentear os cabelos. Em vez disso, encontrará crianças-heróis com "monstros" a enfrentar e opções morais a escolher.
Podendo investir em entretenimento, "Castelo Rá-Tim-Bum", o filme, aproveitou o melhor da liberdade conquistada.
Hamburger conseguiu que seus personagens ganhassem profundidade e sentido (por exemplo, ao relacionar um suposto alinhamento planetário ao crescimento da capacidade do aprendiz de feiticeiro).
"Castelo Rá-Tim-Bum", o filme, é quase um conto de fadas. As divisões entre bem e mal são claras, e a criança é levada a se identificar com o bem. Nino tem de escrever seu livro (tarefa escolar que não recebe esse nome), luta para superar uma dificuldade, acha que não é capaz, mas acaba vencendo seus medos, enfrentando e derrotando os adultos maus.
Há, portanto, uma valorização do livro e do conhecimento, como quis seu diretor. Essa opção, que não raro termina num discurso moralista, com efeito oposto ao desejado, é dessa vez coerente.
Nem alienante (crítica comum e superficial feita normalmente aos contos de fadas) "Castelo Rá-Tim-Bum" pode ser considerado.
Ao opor os interesses de manutenção da cultura (representados pelo castelo) e os do mercado imobiliário (a construção da megatorre), o filme opõe os interesses imediatistas da indústria aos do conhecimento e da história.
Mesmo colocado ao lado da produção recente do cinema brasileiro, "Castelo Rá-Tim-Bum" é um dos raros filmes que falam do mundo urbano. E o trata de forma séria -e não picaresca, como nas comédias de costume cariocas.
Comparado a filmes infantis como "O Menino Maluquinho" (tanto o um quanto o dois), há menor idealização da infância e, portanto, maior possibilidade de identificação entre espectador e herói.
O resultado da produção corresponde ao dinheiro investido. Os cenários são convincentes (evitam as cores abundantes da série de TV), a música (de André Abujamra, do Karnak) é perfeita para um filme infantil e os atores estão muito bem (em especial Marieta "Losângela" Severo), inclusive as crianças.
O roteiro falha em pelo menos um ponto, em que Losângela, uma bruxa com milhares de anos nas costas, tem um ataque quando vê um rato. Para um adulto, é duro de engolir. Para as crianças, é o caso de perguntar a elas. Mas, assim como não se deixa de fazer um filme por problemas numa cena, não é tão pouco que vai tirar uma estrela de "Castelo Rá-Tim-Bum". (HCS)


Avaliação:     

Filme: Castelo Rá-Tim-Bum Diretor: Cao Hamburger Produção: Brasil, 1999 Com: Diegho Kozievitch, Marieta Severo, Sergio Mamberti e Rosi Campos Quando: a partir de hoje, nos cines Center Iguatemi 1, Espaço Unibanco 1 e circuito


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