São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2009

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Crítica/"Sete Intelectuais na Floresta de Bambu"

Exposição de artista chinês indica ascensão do Paço das Artes

Série de filmes de Yang Fudong, exposta em projeto de Álvaro Razuk, é a mais sofisticada mostra da instituição

Divulgação
Cena da série ‘Sete Intelectuais na Floresta de Bambu’, de Yang Fudong, no Paço das Artes

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Instituições públicas de arte estão passando por um radical processo de transformação em São Paulo. Após a consolidação da Pinacoteca do Estado, com uma programação que obscureceu os museus privados paulistanos, o que se percebe agora é a vez do Centro Cultural São Paulo, do Museu da Imagem e do Som (MIS) e do Paço das Artes alcançando o mesmo patamar.
No caso do Paço das Artes, isso fica patente com a exposição "Sete Intelectuais na Floresta de Bambu", com cinco projeções de Yang Fudong, realizadas entre 2003 e 2007, e curadoria de Maarten Bertheux.
Trata-se da montagem mais sofisticada já vista na instituição, realizada por um dos mais renomados artistas chineses na cena contemporânea.
O único senão é a injusta falta de crédito para o arquiteto Álvaro Razuk, responsável pela cenografia, que transformou o Paço num local à altura de qualquer museu digno para a arte contemporânea. As cinco projeções de Fudong podem ser tanto vistas individualmente como em seu conjunto, através de um conjunto de rampas que partem de um mesmo ponto e se transformam em locais adequados para se assistir aos filmes -uma maratona de quase cinco horas em seu total.

Antonioni
Fudong é um mestre na produção da imagem em movimento, criando situações oníricas em filmes preto e branco, hipergranulados e que têm muito a ver com a estética de Michelangelo Antonioni (1912-2007) e seu "neorrealismo interior". O vazio pequeno-burguês dos personagens de Antonioni se transforma na alienação dos jovens "intelectuais" urbanos, que se repetem nos cinco filmes, testemunhas da acelerada ocidentalização da China.
Ainda da mesma maneira que Antonioni, o silêncio -só dois filmes possuem diálogos e, mesmo assim, escassos- é uma forma de fazer com que o espectador tenha um papel mais atuante frente às projeções, cheias de situações ambíguas.
No início da primeira parte, por exemplo, os jovens estão nus, sentados em meio a rochas e, lentamente, se vestem de roupas elegantes, num confronto entre natureza e cultura, que vai se repetir diversas vezes não só naquele como nos demais filmes, especialmente na terceira parte.
Cenários encantadores, que levam ao êxtase, são o pano de fundo para os "intelectuais" habitantes da cidade, situação propícia para que o observador se identifique com diversas situações. Aliás, outro trunfo da montagem, que permite ver, de dentro do Paço, o verde abundante da Cidade Universitária, mimetizando a problemática dos filmes de Fudong.


SETE INTELECTUAIS NA FLORESTA DE BAMBU - YANG FUDONG
Quando:
de ter. a sex., das 11h30 às 19h; sáb. e dom., das 12h30 às 17h30; até 29/3
Onde: Paço das Artes (av. da Universidade, 1, Cidade Universitária, tel. 0/xx/11/3814-4832)
Quanto: entrada franca
Avaliação: ótimo



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